TRAJETÓRIAS: Arquiteto Eduardo Corona

Categoria: Ciências sociais aplicadas: Arquitetura Imprimir Email

Figura 1- Eduardo Corona em seu escritório. Foto: Edite Galote CarranzaFigura 1- Eduardo Corona em seu escritório. Foto: Edite Galote Carranza

 Eduardo Corona pertence à última geração de arquitetos formados pela Enba – Escola Nacional de Belas Artes, adepta da arquitetura moderna, sob a influência da Escola Carioca e Le Corbusier, e que migrou para São Paulo. Nasceu em 1921, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

No curso da Enba, naquela época,  a opção pela arquitetura moderna significava o engajamento em uma causa. Existia um movimento retrógrado, que incluía a quase totalidade dos alunos, e que se constituiu como foco de resistência pela manutenção da arquitetura tradicional. Corona fazia parte de um pequeno grupo de alunos, dezesseis ao todo,  adeptos da arte e arquitetura modernas, e que contava com Maurício Roberto, Francisco Bolonha, o escultor Alfredo Ceschiatti, entre outros.

No ano de 1942, o grupo minoritário decidiu realizar uma exposição, conforme a tradição da escola em realizar mostras anuais de alunos. Mas a inovação não foi bem recebida. No dia anterior à abertura a exposição foi destruída pela esmagadora maioria dos alunos.

O pequeno grupo de adeptos da arte e arquitetura modernas não se intimidou.  Conseguiu o apoio de Herbert Moses, presidente da ABI, que cedeu uma sala, na própria ABI, para que a exposição pudessse ser refeita. Na tarde de abertura, em um ato de solidariedade, compareceram: Portinari, Manuel Bandeira, Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, e Oscar Niemeyer, entre outros artistas e arquitetos.

Em 1943, ainda estudante, organiza escritório de arquitetura, e colabora com Affonso Eduardo Reidy, Sérgio Bernardes, Jorge Moreira, Francisco Saturnino de Brito, Hélio Uchoa Cavalcanti, e Oscar Niemeyer,  com quem seguiria até 1949.

 

Figura 2 - ENBA - Projeto de um Hotel - 1945Figura 2 - ENBA - Projeto de um Hotel - 1945

 Em 1949, o arquiteto Abelardo de Souza, de passagem pelo Rio de Janeiro, convidou Corona para lecionar Teoria da Arquitetura, como assistente do arquiteto Anhaia Mello, então responsável pela cadeira na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

Em meados de 1949, já em São Paulo, Corona é apresentado por Eduardo Kneese de Mello a Hélio Duarte, que o convida a participar do Convênio Escolar. A equipe era composta pelos arquitetos Oswaldo Corrêa Gonçalves, Roberto José Goulart Tibau, Antonio Carlos Pitombo, e o engenheiro Ernest Robert de Carvalho Mange.  O arquiteto Hélio Duarte era então o Presidente da Sub-Comissão de Planejamento.

Conforme depoimento do Presidente da Comissão, eng. José Amadei, o Convênio Escolar nasce de uma parceria entre governo e municipalidade: "Uma lei federal , de 1942, retificada e ratificada, em 1946 pela Constituição, mandava que União, Estados e Municípios aplicassem, anualmente, na manutenção e desenvolvimento do ensino, determinada porcentagem da arrecadação de impostos." [1]

Assumia, então, a Prefeitura a missão de construir edifícios escolares, ficando a responsabilidade do ensino – escolaridade,  corpo docente e administração, nas mãos do Estado.

Embora Eduardo Corona tenha projetado cerca de 17 edifícios para o Convênio Escolar, sua participação não irá além de 1952. Segundo Roberto Tibau, divergências entre Hélio Duarte, que defendia uma produção voltada predominantemente para o social, e Corona, envolvido com o conceito de arquitetura como síntese das artes, levaram este a reconsiderar seu papel junto ao Convênio. Conforme depoimento, Corona declara que foram decepções ligadas às especificações de materiais que contribuíram para sua desilusão e posterior afastamento.

 

Figura 3 - Convênio Escolar - Ginásio Estadual da Penha - SP – 1953Figura 3 - Convênio Escolar - Ginásio Estadual da Penha - SP – 1953

                  

Os últimos projetos para o Convênio foram o Ginásio Estadual da Penha, em 1953,  escola de expressão vigorosa a partir dos elementos básicos da arquitetura moderna brasileira, influenciada por Le Corbusier, e o Planetário, com Roberto José Goulart Tibau e Antonio Carlos Pitombo. Concebido, inicialmente, como uma cúpula de alumínio dimensionada para atender a um conjunto de necessidades acústicas específicas, teve a solução vetada por uma questão orçamentária. Nova cúpula foi concebida, desta vez em concreto armado. Corona apresentou o projeto a Oscar Niemeyer, por tratar-se do Parque do Ibirapuera, local de implantação do Planetário. A apresentação se deu no escritório de Niemeyer em  São Paulo,  o qual, por uma feliz coincidência, era coordenado pelo Arquiteto Carlos Lemos, com quem Eduardo Corona  travou, a partir de então, duradoura e produtiva amizade.

 

Figura 4 - Convênio Escolar - Planetário – Tibau, Corona , Pitombo - Parque do Ibirapuera – SP - 1953Figura 4 - Convênio Escolar - Planetário – Tibau, Corona , Pitombo - Parque do Ibirapuera – SP - 1953

 

Figura 5 -  Convênio Escolar - Planetário – Concepção Corona – SP - 1953Figura 5 - Convênio Escolar - Planetário – Concepção Corona – SP - 1953

 

O Planetário, conforme construído, foi precedido de alguns estudos, dentre os quais, gostarímaos de destacar a concepção de Corona. Embora não tenha sido desenvolvida, vale o registro. Como podemos observar, Corona havia pensado em uma solução em pilotis, criando, assim, uma circulação coberta no perímetro do edifício. É interessante notar que a cúpula é suspensa por elementos estruturais, solução inusitada para a época.

No início dos anos de 1950, Corona projeta duas residências, uma em Pinheiros, outra no Pacaembu, em parceria com Roberto José Goulart Tibau. Na residência em Pinheiros, a maneira de combinar a estrutura, com o pano de elementos vazados e o quebra-sol – face oeste, delimita um jardim aberto para a rua, e outro de maior intimidade, para o qual a sala de estar se abre. A solução articula as relações entre interior e exterior sem excluir os planos visuais da cidade.

 

Figura 6 - Residência em Pinheiros – Tibau, Corona - SP - 1951Figura 6 - Residência em Pinheiros – Tibau, Corona - SP - 1951

 

Na residência do Pacaembu, implanta-se um partido inovador mediante o acesso pela área íntima, ao invés da convencional entrada pela sala de estar. Encontra-se também a relação dos espaços internos com o jardim, centrado na área social da residência, uma preocupação constante nos projetos de Corona.

 

Figura 7 - Residência no Pacaembu – Plantas – Corona, Tibau, Luís Fernando Corona – SP - 1951Figura 7 - Residência no Pacaembu – Plantas – Corona, Tibau, Luís Fernando Corona – SP - 1951

 

 

Figura 8 - Residência no Pacaembu – Perspectiva Luís Fernando Corona – Corona, Tibau, Luís Fernando Corona – SP - 1951Figura 8 - Residência no Pacaembu – Perspectiva Luís Fernando Corona – Corona, Tibau, Luís Fernando Corona – SP - 1951

 

 

Nessas residências encontramos o repertório arquitetônico que, em maior ou menor grau, irá acompanhar o arquiteto em toda a sua produção de residências, durante as décadas de 1950 e 1960, e que poderia ser assim enunciado: os planos de elementos vazados, os murais, o jardim interno - contemplativo, intimista;  a concepção plástica baseada em prismas de base retangular com  desenvolvimento definido pela cobertura; e, enfim, a observação criteriosa das inter-relações funcionais.

 

Figura 9 - Residência no Pacaembu – Corte Luís Fernando Corona – Corona, Tibau, Luís Fernando Corona – SP - 1951Figura 9 - Residência no Pacaembu – Corte Luís Fernando Corona – Corona, Tibau, Luís Fernando Corona – SP - 1951

 

 À residência do Pacaembu,  participou do Salão de Arte Moderna de São Paulo, e recebeu o prêmio do Govêrno do Estado, a residência em Pinheiros foi premiada no 1º Salão Paulista de Arte Moderna, o Planetário no XVII Salão Paulista de Belas Artes. Todos esse prêmios conferidos na década de 1950.

 

Figura 10 - Residência no Pacaembu – Corona, Tibau, Luís Fernando Corona – SP - 1951Figura 10 - Residência no Pacaembu – Corona, Tibau, Luís Fernando Corona – SP - 1951

 

 No edifício localizado na Bela Vista, para a estruturação plástica dos planos de fachada, foi importante o emprego da cor. os pilotis são amarelos, e nas persianas e peitoris foram aplicados o branco, cinza e azul, alternadamente. A fachada posterior foi resolvida por uma rede de nervuras, entremeadas por elementos vazados cerâmicos, gerando uma composição alegre e descontraída. A solução de planta é simples, lógica e direta. As circulações verticais foram alinhadas por um único eixo. A privacidade, no acesso social, foi observada com a adoção de hall de entrada, e circulação exclusiva para os dormitórios. Os dimensionamentos dos espaços e aberturas são generosos, em consonância com sua época. A racionalização dos processos construtivos foi observada pelo alinhamento de alvenarias, modulação de esquadrias  e prumada hidráulica para os sanitários.  

Figura 11 - Edifício Residência Av. 9 de Julho – São Paulo - 1953Figura 11 - Edifício Residência Av. 9 de Julho – São Paulo - 1953

 

A Escola Técnica Federal de Jundiaí (1958 ) era destinada a técnicos industriais para as áreas de Edificações, Agrimensura e Pontes e Estradas, com 50 mil metros quadrados  de área de construção, a serem implantados em um terreno de 200.000 metros quadrados. O programa foi dimensionado para uma população de 500 alunos, prevendo-se um desdobramento futuro em torno de 50%. Levando-se em consideração o impacto de sua implantação, situada na entrada da cidade de Jundiaí, planejou-se um trevo como forma de absorver e organizar o tráfego entre a escola e a cidade. [2]  Os edifícios foram agrupados de forma a conigurarem uma praça. Suas formas são puras, despojadas, exceto pelo anfiteatro em leque. 

Figura 12 - Escola Técnica Federal de Jundiaí - 1958Figura 12 - Escola Técnica Federal de Jundiaí - 1958

Em 1961 realiza sua obra mais importante: o edifício para os Departamentos de História e Geografia da USP. É interessante compará-lo com a FAUUSP, por estarem inseridos no mesmo campus, pela sincronicidade dos projetos, e pela contemporaneidade de seus autores, ambos professores da FAUUSP, e por serem os únicos edifícios que,  integrantes de um plano que contemplava um conjunto de faculdades, chegaram a ser construídos. Ambos possuem  concepção escultural marcante, com grandes vãos em concreto armado, sendo que Corona utilizou o concreto pintado, enquanto que Artigas se manteve inserido na tradição brutalista.  Corona optou por eixos de penetração longitudinais e transversais enquanto Artigas concebeu um edifício permeável em parte considerável de sua extensão. Corona projetou seqüências de salas dispostas em série que se abrem para uma rua interna, enquanto Artigas organiza seus ambientes em torno de uma praça. Em ambos os casos utilizam iluminação zenital sobre estrutura de concreto armado. Ambos foram calculados pelo escritório Figueiredo Ferraz.

 

Figura 13 - História e Geografia – USP – 1961Figura 13 - História e Geografia – USP – 1961

 

 

Figura 14 - História e Geografia – USP - 1961Figura 14 - História e Geografia – USP - 1961

 

 No entanto, algumas considerações podem ser feitas a partir de seus contrastes. Os projetos de História e Geografia e FAU são ambos datados de 1961.[3] Mas a obra de Corona é inaugurada em 1964, sendo que a FAU só estará concluída em 1969. Conforme depoimento de Aloysio Margarido, engenheiro do escritório Figueiredo Ferraz,  esta era uma época de projetos arrojados e de execuções que deixavam a desejar, por duas razões principais: a) o distanciamento que persistia entre arquiteto e engenheiro; b) projetos de arquitetura que possuíam um arrojo que não correspondia aos recursos técnicos disponíveis à época de sua execução. [4]

 

Figura 15 - História e Geografia – USP – Vista Interna - 1961Figura 15 - História e Geografia – USP – Vista Interna - 1961

 

 

Figura 16 - História e Geografia – USP –  1961Figura 16 - História e Geografia – USP – 1961

 

Corona ao imaginar que a integração entre arquitetura e urbanismo pudesse gerar um ambiente capaz de potencializar as relações de convívio, levou em consideração, como prioridade, que a atividade estudantil pressupõe um ambiente favorável ao relacionamento, e como tal é veículo indissociável  à transmissão de conhecimento. Portanto, existiu uma lógica em concebê-lo como um grande pavilhão transparente que sintetizasse o conjunto de relações do edifício, o que fez do História e Geografia um marco no campus da Cidade Universitária, recebendo o prêmio IAB em 1967, na categoria de prédios construídos no setor de Edifícios Educacionais.

 

Figura 17 - História HG – Construção - 1961 Figura 18 História e Geografia – USPFigura 17 - História HG – Construção - 1961 Figura 18 História e Geografia – USP

 

 

 

Figura 19- Detalhe estrutura rampa   História e Geografia-1961-Figura 19- Detalhe estrutura rampa História e Geografia-1961-

 

 

No final da década de 1960, Eduardo Corona é convidado para idealizar o plano para o Campus da Universidade Braz Cubas.  Então projetará  o conjunto de edifícios e as diretrizes básicas de ensino. Devido à sua experiência adquirida durante sua carreira docente, Corona idealiza um curso em que a proposta de atuação do arquiteto vai além da relação linear programa-lote, na medida em que visualiza a possibilidade de uma maior inserção do profissional em um contexto urbano.

 

Figura 20 -  Croquis Universidade Braz Cubas – Mogi das Cruzes - 1972Figura 20 - Croquis Universidade Braz Cubas – Mogi das Cruzes - 1972

 

As obras de Corona para o campus da UBC apresentam uma tendência à simplificação formal. No caso da FAUBC – Faculdade de Arquitetura Braz Cubas, o projeto foi  concebido com base em pré-fabricados. Corona recebera como incumbência a elaboração de um projeto com baixo custo e reduzido prazo de execução.  Dessa forma, lançou mão de materiais e técnicas que atenderiam àquela condicionante: painéis metálicos, vedação modulada em blocos de concreto , caixilhos de ferro, cobertura em telha metálica trapezoidal, instalações aparentes. Corona atendeu a todas as condicionantes realizando um projeto de qualidade, e o edifício foi concluído em seis meses.

 

Figura 21 - Maquete Universidade Braz Cubas – Mogi das Cruzes - 1972Figura 21 - Maquete Universidade Braz Cubas – Mogi das Cruzes - 1972

 

 Mas, quanto à implantação dos demais edifícios do campus a concepção de Corona foi desrespeitada. O edifício destinado ao curso de arquitetura foi escandalosamente deturpado. Houve redução de programa, substituição de materiais e alterações de soluções construtivas – laje nervurada substituída por telhas de cimento-amianto. Eliminou-se o eixo transversal de acesso ao edifício, afastando-o de forma significativa da idéia original do arquiteto e comprometendo a lógica das circulações. Outros edifícios, como o Auditório e o Restaurante simplesmente não foram executados. O programa de Corona não atingiu sua meta por uma questão de ingerência, incompreensão e total falta de sensibilidade para as questões de arquitetura daqueles que assumiram a responsabilidade de execução do campus da universidade.

 

Figura 22 - FAUBC -  Universidade Braz Cubas – Mogi das Cruzes - 1972Figura 22 - FAUBC - Universidade Braz Cubas – Mogi das Cruzes - 1972

 

Também na década de 1970, projeta uma série de escolas para o Fundo Estadual de Construções Escolares, dentre as quais, o FECE em Barreto, interior de São Paulo. Nesta escola Corona retoma o tema dos espaços de convívio concebidos com generosidade. A concepção de cobertura e superestrutura independentes do conjunto de salas de aula, favoreceu algumas conquistas importantes para o projeto, como a  ventilação cruzada, a ampliação das relações visuais, e a praça central  que facilita o fluxo de  circulações e o convívio dos estudantes.

 

Figura 23 - FECE Pereira Barreto – SP - 1971Figura 23 - FECE Pereira Barreto – SP - 1971

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Figura 24 - FECE Pereira Barreto –Planta Pavto. Térreo - SP - 1971Figura 24 - FECE Pereira Barreto –Planta Pavto. Térreo - SP - 1971

 

 

Figura 25 - FECE – Pereira Barreto – Corte Transversal - 1971Figura 25 - FECE – Pereira Barreto – Corte Transversal - 1971

 

Na mesma década, inicia-se uma nova sistemática empreendida pelas organizações bancárias, em que os projetos visam estratégias de marketing. Corona lança mão de recursos  que permitem individualizar  o edifício, no sentido de destacá-lo da paisagem. Grandes vigas curvas de concreto armado aparente destacam a agência do alinhamento e a recortam, com expressão escultural, do limite preestabelecido pelas edificações existentes, de forma a torná-la apta a enfrentar a competitividade das demais instituições financeiras.

 

Figura 26 - Agência Bancária – Corona, Esher, Lage – Itapira - 1978Figura 26 - Agência Bancária – Corona, Esher, Lage – Itapira - 1978

 

 

Figura 27 - Agência Bancária – Corona, Esher, Lage – Casa Verde – SP - 1978Figura 27 - Agência Bancária – Corona, Esher, Lage – Casa Verde – SP - 1978

 

 

Figura 28 - Agência Bancária – Corona, Esher, Lage – Santos – SP - 1978Figura 28 - Agência Bancária – Corona, Esher, Lage – Santos – SP - 1978

 

 O estudo da produção arquitetônica de Eduardo Corona possui interesse por diversos aspectos. Tendo atuado durante mais de três décadas na cidade de São Paulo, produziu elenco significativo de projetos e obras construídas, muitas de inegável valor para o avanço da arquitetura moderna. Em um primeiro momento, apoiadas no repertório da Escola Carioca, com edifícios residenciais e obras públicas - via Convênio Escolar, para depois assimilar de forma consistente a experiência paulista. A partir desses eventos desenvolverá uma obra em que  a expressão plástica será conduzida pelos elementos estruturais, pelos materiais e às técnicas.

 Eduardo Corona foi notavelmente constante e coerente em tudo que fez e propôs. Manteve-se sempre fiel aos princípios da arquitetura moderna que o nortearam desde seus primeiros anos de estudante na Enba. Dedicou-se incansavelmente às causas ligadas à profissão  e ao ensino de arquitetura. Referendado diversas vezes pelo CREA, por serviços relevantes, foi agraciado com o colar do mérito do IAB – homenagem rara. Através do estudo de sua produção, é possível notar  que a seleção de obras referenciais em arquitetura não constituem um universo fechado, e  a compreensão do seu significado deve ser entendida como um processo dinâmico de trabalho coletivo. Próximo de completar oitenta anos, Corona manteve-se produtivo, concluindo seu projeto literário sobre Oscar Niemeyer: Uma lição de arquitetura.

 

Corona e Niemeyer, s/d.Corona e Niemeyer, s/d.

 

Gostaríamos de concluir este breve relato com algumas palavras de Niemeyer sobre Corona.  Rio, 05.out.1999.

 

É com prazer que vou falar do meu querido amigo Eduardo Corona. Dos nossos velhos tempos, dos trabalhos que juntos elaboramos, das noites passadas em claro sobre as pranchetas, otimistas como é próprio da juventude.

Depois, como sempre acontece, foi a vida que nos separou, meu companheiro se radicando em São Paulo e eu no Rio de Janeiro.

Não raro nos encontrávamos a lembrar fatos antigos, mas sempre em grupos, a conversa a se perder em assuntos gerais, a comentarmos coisas boas e ruins que ocorriam em nosso país e, pouco, quase nada de nossas pobres vidas.

E, para redigir este pequeno texto, fui obrigado a me informar sobre sua vida profissional, surpreso, contente de saber como ele tão bem atuou e ainda atua na profissão, os concursos que venceu, os belos trabalhos que executou, sua passagem pela universidade - tão importante para a transformação do ensino da arquitetura. Querido por seus colegas, Corona soube manter um contato afetuoso com seus alunos, apoiando-os nas reivindicações que surgiam, com eles se solidarizando como homem politizado que sempre foi.

Um dia, assim espero, vou ter uma conversa mais longa com o meu amigo, lembrar a Praça da República onde nos divertíamos com Cardozo, Hélio e Serioma, a rir da própria vida, ou a viagem que fiz ao sul, quando conheci seu pai, também professor de arquitetura, tão honrado arquiteto como ele. E o tempo a passar, depressa demais.

Oscar Niemeyer[5]

    Ricardo Carranza
    Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2000, diretor do escritório de arquitetura e editora G&C Arquitectônica Ltda, editor da revista 5% Arquitetura + Arte e escritor. Publicações: Antologias de Concursos Nacionais – SCORTECCI, SESC DF; revista de literatura – CULT; sites de Poesia e Literatura – Zunái, Stéphanos, Germina, Cult - Ofi-cina Literária, Mallarmargens, O arquivo de Renato Suttana, Triplov. LIVROS: Poesia – publicados: Sexteto, Edição do Autor, SP, 2010; A Flor Empírica, Edição do autor, SP, 2011; Dramas, Editora G&C Arquitectônica Ltda., SP, 2012. Inéditos – Pastiche, 2017/2018; poesia... 2019. Contos – inéditos: A comédia dos erros, 2011/2018 – pré-selecionado no Prêmio Sesc de Literatura 2018; Anacronismos, 2015/2018; 7 Peças Cáusticas, 2018. Romance inédito: Craquelê, 2018/2019. Cadernos de Insônia (58): desde 2009. ARTIGOS publicados na revista 5% Arquitetura+Arte desde 2005.

     

     

    [2] Módulo 2(13):16-7,abr.1959.

    [3] CORONA, Eduardo, LEMOS, Carlos, XAVIER, Alberto (org.). Arquitetura Moderna Paulistana. São Paulo, Pini, 1983.

    [4] MARGARIDO, Aloysio. Depoimento sobre História e  Geografia. Org. Ricardo Carranza. São Paulo,

    [5] Carranza, Ricardo. Eduardo Corona: arquitetura moderna em São Paulo. São Paulo, Fupam, 2001.

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