O Renascimento da Escola Municipal de Astrofísica

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EDITE GALOTE CARRANZA
RICARDO CARRANZA

O projeto de arquitetura começa por uma pergunta: que partido adotar, isto é, dadas as condicionantes – programa, sítio, recursos, quais seriam as respostas mais adequadas à solução do problema?

Na Escola Municipal de Astrofísica, Roberto José Goulart Tibau, arquiteto e professor da FAUUSP, delimitou um território mediante vigas perpendiculares a dois pilares parede associados à uma planta livre com quatro apoios, enfatizando transparência e prolongamento visual determinados tanto pelos vãos estruturais sem laje quanto pela caixilharia das áreas cobertas. Balanços de laje no eixo transversal atenderam ao sombreamento das vedações em vidro. Considerado por Ruth Verde Zein um exemplar da Arquitetura Brutalista Paulista, o projeto foi bem sucedido, em nossa opinião, porque harmoniza a força dos grandes elementos estruturais à leveza que os mesmos delimitam.

 

Foto 2 – Fachada leste destacando o novo acesso com rampa universal adequada à norma  ABNT NBR 9050/2004 e recomposição de piso mosaico português. Fonte: Elito Arquitetos Associados LtdaFoto 2 – Fachada leste destacando o novo acesso com rampa universal adequada à norma ABNT NBR 9050/2004 e recomposição de piso mosaico português. Fonte: Elito Arquitetos Associados Ltda

 

            A ideia de uma Escola de Astrofísica foi do professor Aristóteles Orsini, membro da Associação de Amadores de Astronomia de São Paulo, em 1949. Inaugurado em 1961, o Astrofísica no tempo exigiu cuidados. O primeiro passo foi o tombamento pelo CONDEPHAAT e CONPRESP em 1992. Em 2004, através da SVMA, a Inpar contratou o arquiteto Edson Elito para ampliar o programa, adequá-lo às normas de funcionamento vigentes e infraestrutura necessária ao novo projeto educacional, pedagógico e científico.

            O desafio, comum às obras de caráter histórico, é atender a um novo programa com interferência criteriosa. Parte da ampliação foi resolvida em subsolo, com um ressalto discreto do detalhe de ventilação e iluminação permanentes sob banco de concreto na superfície. Quatro novos telescópios, instalados em estrutura de concreto com domo rotativo de fiberglass, foram implantados defronte ao edifício existente. Um deck de madeira, suspenso por perfis de aço, respondeu pela interligação do conjunto e conta com rampas acessíveis nas extremidades.

 

Desenho 1 – Corte transversal destacando a ampliação construída em subsolo e o deck de madeira para os novos observatórios: três deles modulares de fiberglass, com domo rotativo, tipo “Sirus School Model” diâmetro 3.50m e um modular de fiberglass, como domo “Clam-shall tipo Astro Haven”  diâmetro 7 pés   Desenho: Edite Galote CarranzaDesenho 1 – Corte transversal destacando a ampliação construída em subsolo e o deck de madeira para os novos observatórios: três deles modulares de fiberglass, com domo rotativo, tipo “Sirus School Model” diâmetro 3.50m e um modular de fiberglass, como domo “Clam-shall tipo Astro Haven” diâmetro 7 pés Desenho: Edite Galote Carranza

 

 

            Questões relativas à acessibilidade universal demandaram intenso debate entre arquitetos e órgãos do patrimônio e defesa de pessoas portadoras de necessidades especiais. A instalação de um elevador com portas opostas, e vedação em vidro, atendeu aos cinco desníveis da escola, bem como sua inscrição discreta no corpo da obra.

 

Desenho 2 – Detalhe do banco de concreto aparente, com caixilhos de alumínio e vidro, para iluminação e ventilação permanentes, da ampliação em subsolo; passeio com piso em mosaico preto e laje da ampliação com gramado.  Desenho: Edite Galote Carranza  Desenho 2 – Detalhe do banco de concreto aparente, com caixilhos de alumínio e vidro, para iluminação e ventilação permanentes, da ampliação em subsolo; passeio com piso em mosaico preto e laje da ampliação com gramado. Desenho: Edite Galote Carranza

 

 

            Em um projeto como o Astrofísica, parte significativa das intervenções não são evidentes, mas evidenciam a ética do arquiteto. Assim, o terreno gramado junto à caixilharia foi recomposto; os muros de pedra da Biblioteca voltaram a ter seteiras; as placas de sombreamento da cobertura foram substituídas por enchimento de concreto leve com proteção térmica e impermeabilização; novas esquadrias com de vidros de segurança e venezianas no salão de exposições foram especificadas respeitando-se a modulação original; instalações de hidráulica, elétrica, lógica, e incêndio foram substituídas e redimensionadas.

            Exemplo de maestria técnica associada à sensibilidade artística, o projeto recebeu o Prêmio Destaque – O Melhor da Arquitetura,  Revista Arquitetura e Construção, 2010.

FICHA TÉCNICA:

Escola Municipal de Astrofísica Professor Aristóteles Orsini

Local – Parque Ibirapuera – São Paulo/SP

Projeto Original – Arquiteto Roberto José Goulart Tibau 1960/1961

área – 1.884,23m²

CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo.

CONPRESP – Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo

Projeto de restauro, ampliação e adequação 2004/2008

área de ampliação 242,87m²

área total de intervenção 2.127,10m²

Projeto de arquitetura Elito Arquitetos Associados Ltda.

Edson Elito,  Joana Fernandes Elito  e Cristiane Otsuka Takiy

Secretaria do Verde e do Meio Ambiente do Município de São Paulo – SVMA

Equipe técnica de arquitetos: Marcos Cartum, André Pavão, Estagiária de arquitetura, Carla Guimarães

Fiscalização Depave: Eng. Sergio Ferline

Projeto de estrutura: Kurkdjian e Fruchtengarten engenheiros associados

Projeto de instalações elétricas e hidráulicas: Sandretec consultoria ltda

Projeto de instalações de ar-condicionado: WS ar-condicionado ltda

Construção: Construtora Inpar

Sommar engenharia: Apoio instituconal

Fundação Vitae, Fotos da obra: Stepan Norair Chahinian

 REFERÊNCIAS:

CARRANZA, Ricardo. Eduardo Corona na arquitetura moderna paulista. 1. ed. São Paulo: FUPAM, 2002.

CARRANZA, Ricardo; CARRANZA, Edite Galote. Documento Roberto José Goulart Tibau. AU, São Paulo, v. 103, p. 89-95, 2002.

ORSINI, Maria Stella; BERGAMASCHI, Patrizia. Memorial das estrelas: memorial de Aristóteles Orsini Fundador do Planetário de São Paulo. São Paulo: Companhia ilimitada, 2001.

ZEIN, Ruth Verde. Escola Municipal de Astrofísica. Disponível em: http://www.arquiteturabrutalista.com.br/fichas-tecnicas/DW%201957-25/1957-25fichatecnica.htm

AUTORES:

    Edite Galote Carranza
    é mestre pelo Instituto Presbiteriano Mackenzie em 2004; doutora pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP em 2013 com a tese “Arquitetura Alternativa: 1956-1979”; diretora do escritório de arquitetura e editora G&C Arquitectônica e da revista eletrônica 5% arquitetura + arte ISSN 1808-1142. Publicações em revistas especializadas, livros Escalas de Representação em Arquitetura, Detalhes Construtivos de Arquitetura e O quartinho invisível: escovando a história da arquitetura paulista a contrapelo. Professora da graduação e pós-graduação da Universidade São Judas Tadeu.

      Ricardo Carranza
      Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2000, diretor do escritório de arquitetura e editora G&C Arquitectônica Ltda, editor da revista 5% Arquitetura + Arte e escritor. Publicações: Antologias de Concursos Nacionais – SCORTECCI, SESC DF; revista de literatura – CULT; sites de Poesia e Literatura – Zunái, Stéphanos, Germina, Cult - Ofi-cina Literária, Mallarmargens, O arquivo de Renato Suttana, Triplov. LIVROS: Poesia – publicados: Sexteto, Edição do Autor, SP, 2010; A Flor Empírica, Edição do autor, SP, 2011; Dramas, Editora G&C Arquitectônica Ltda., SP, 2012. Inéditos – Pastiche, 2017/2018; poesia... 2019. Contos – inéditos: A comédia dos erros, 2011/2018 – pré-selecionado no Prêmio Sesc de Literatura 2018; Anacronismos, 2015/2018; 7 Peças Cáusticas, 2018. Romance inédito: Craquelê, 2018/2019. Cadernos de Insônia (58): desde 2009. ARTIGOS publicados na revista 5% Arquitetura+Arte desde 2005.
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