As cúpulas do Planetário

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EDITE GALOTE CARRANZA

RICARDO CARRANZA

No início da década de 1950, o então governador Lucas Nogueira Garcez priorizou o projeto do Parque do Ibirapuera para que este fosse o marco arquitetônico do IV Centenário da Cidade de São Paulo. Era o momento histórico do Brasil grande, moderno, e que encontraria nas obras monumentais de Brasília sua realização mais emblemática, embora, à época, nem sempre as soluções arrojadas estivessem de acordo com as possibilidades técnico-construtivas.

Nesse momento histórico, caberia ao Convênio Escolar, corpo de profissionais constituído com o objetivo de suprir a carência de escolas da rede pública municipal, a tarefa de projetar um edifício para o estudo da astronomia.

 

Maquete original do Planetário. Fonte: Arquivo Eduardo CoronaMaquete original do Planetário. Fonte: Arquivo Eduardo Corona

 

O projeto exigiu esforços concentrados dos arquitetos Antonio Carlos Pitombo, Eduardo Corona e Roberto Tibau, devido à especificidade do programa que deveria contemplar auditório circular e cúpula refletora, além de ser o primeiro planetário da América Latina. Como a proposta de um edifício em estrutura metálica foi afastada por questões orçamentárias, os arquitetos chegaram à engenhosa solução de duas cúpulas sobrepostas autônomas: a interna em concreto armado, arco pleno com 10.00m de diâmetro e casca extremamente delgada com 7cm de espessura; a externa em arco abatido com raios variáveis em cambotas de madeira, tabuado e revestimento de alumínio. A independência das cúpulas proporcionou um anel periférico, espaço necessário ao agenciamento das funções de suporte do planetário, tais como: circulações verticais, sanitários, exposições e administração. A cúpula interna teve ainda uma segunda solução na qual à casca de concreto seria acrescentada uma segunda camada de 20 cm em concreto poroso com juntas de cortiça, com o objetivo de atender ao conforto termo acústico.

 

Detalhe das camadas da cúpula. Desenho: Edite Galote CarranzaDetalhe das camadas da cúpula. Desenho: Edite Galote Carranza

 

Por quatro décadas o edifício cultural cumpriu sua missão e se tornou uma referência na cidade de São Paulo. Depois, o planetário envelheceu, fechou e renasceu.

 

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 Uma nova proposta foi desenvolvida pelos arquitetos Paulo Faccio e Pedro Dias em 2003. O conceito adotado pelos arquitetos foi a manutenção das características formais do projeto original e buscar, de forma criteriosa, os materiais e técnicas que melhor as valorizassem. A estrutura de madeira da cobertura foi restaurada e agora mantida aparente como um gesto simbólico da nova fase do edifício. O revestimento externo da cobertura foi substituído por chapas de alumínio zipada. A tecnologia mais atualizada, entretanto, exigiu a inserção de uma terceira cúpula de raio 8.95m em chapas perfuradas de alumínio sob a cúpula de concreto, dimensionada para o novo equipamento de projeção e ancorada ao anel de concreto da estrutura original. Novo sistema de ar condicionado e um elevador panorâmico, que atende às novas necessidades e normas, completam a renovação.

 

Sala de projeção após a reforma. Fonte: Acervo dos arquitetosSala de projeção após a reforma. Fonte: Acervo dos arquitetos

 Aberto ao público em janeiro de 2016, o novo Planetário com sua sucessão de cúpulas, nos remete à Matriosca, bonequinha russa cuja principal característica é a sucessão de sobreposições das maiores às menores, o que nos sugere a representação do infinito, por sinal o objeto de estudo do Planetário.

FICHA TÉCNICA:

Planetário Municipal Prof. Aristóteles Orsini

Projeto Estrutural da Cúpula: Figueiredo Ferraz Consultoria e Engenharia de Projeto Ltda.

Projeto estrutural da Cobertura: Escritório Técnico Erwin Hauff.

Restauro e readequação: Faccio Arquitetura S S Ltda EPP Aberto ao público em janeiro de 2016, o novo Planetário com sua sucessão de cúpulas, nos remete à Matriosca, bonequinha russa cuja principal característica é a sucessão de sobreposições das maiores às menores, o que nos sugere a representação do infinito, por sinal o objeto de estudo do Planetário.

FICHA TÉCNICA:

Planetário Municipal Prof. Aristóteles Orsini

Projeto Estrutural da Cúpula: Figueiredo Ferraz Consultoria e Engenharia de Projeto Ltda.

Projeto estrutural da Cobertura: Escritório Técnico Erwin Hauff.

Restauro e readequação: Faccio Arquitetura S S Ltda EPP

Avaliação da estrutura de madeira da cobertura: IPT – Instituto de Pesquisas tecnológicas do estado de São S.A.

EDIF – Arquivista Aparecida Lopes

Avaliação da estrutura de madeira da cobertura: IPT – Instituto de Pesquisas tecnológicas do estado de São S.A.

EDIF – Arquivista Aparecida Lopes

REFERÊNCIAS:

CARRANZA, Ricardo. Eduardo Corona na arquitetura moderna paulista. 1. ed. São Paulo: FUPAM, 2002.

CARRANZA, Ricardo. Documento Eduardo Corona. AU. Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, v. 95, n.95, p. 82-87, 2001.

CARRANZA, Ricardo; CARRANZA, Edite Galote. Documento Roberto José Goulart Tibau. AU. Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, v. 103, p. 89-95, 2002.

ORSINI, Maria Stella; BERGAMASCHI, Patrizia. Memorial das estrelas: memorial de Aristóteles Orsini Fundador do Planetário de São Paulo. São Paulo: Companhia ilimitada, 2001.

    Edite Galote Carranza
    é mestre pelo Instituto Presbiteriano Mackenzie em 2004; doutora pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP em 2013 com a tese “Arquitetura Alternativa: 1956-1979”; diretora do escritório de arquitetura e editora G&C Arquitectônica e da revista eletrônica 5% arquitetura + arte ISSN 1808-1142. Publicações em revistas especializadas, livros Escalas de Representação em Arquitetura, Detalhes Construtivos de Arquitetura e O quartinho invisível: escovando a história da arquitetura paulista a contrapelo. Professora da graduação e pós-graduação da Universidade São Judas Tadeu.
      Ricardo Carranza
      Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2000, diretor do escritório de arquitetura e editora G&C Arquitectônica Ltda, editor da revista 5% Arquitetura + Arte e escritor. Publicações: Antologias de Concursos Nacionais – SCORTECCI, SESC DF; revista de literatura – CULT; sites de Poesia e Literatura – Zunái, Stéphanos, Germina, Cult - Ofi-cina Literária, Mallarmargens, O arquivo de Renato Suttana, Triplov. LIVROS: Poesia – publicados: Sexteto, Edição do Autor, SP, 2010; A Flor Empírica, Edição do autor, SP, 2011; Dramas, Editora G&C Arquitectônica Ltda., SP, 2012. Inéditos – Pastiche, 2017/2018; poesia... 2019. Contos – inéditos: A comédia dos erros, 2011/2018 – pré-selecionado no Prêmio Sesc de Literatura 2018; Anacronismos, 2015/2018; 7 Peças Cáusticas, 2018. Romance inédito: Craquelê, 2018/2019. Cadernos de Insônia (58): desde 2009. ARTIGOS publicados na revista 5% Arquitetura+Arte desde 2005.
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