Estilo macarrônico

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O arquiteto Benedito Lima de Toledo, em “Belle Epoque”, utilizou a expressão “Estilo Macarrônico” para classificar um tipo de arquitetura produzida pelos “capomastri” - mestres-de-obras italianos, que deixaram sua marca nas construções

residenciais do inicio do século passado.    

           Hoje, podemos ter outra conotação para Estilo Macarrônico, comparando projetos e os pratos:

           O Macarrão instantâneo não requer mão-de-obra especializada, cozinha rapidamente e tem tempero pronto. É um prato servido ou “carimbado” nos mais variados tipos de bandejas, sem a menor preocupação plástica, mas sempre em porções quantitativas legais. Recomenda-se que este prato seja consumido em ambientes de permanência prolongada voltadas para a face sul. O Macarrão instantâneo é prato feito para consumidores que podem pagar.

           O Macarrão Clássico tem estilo e padrão italiano renascentista, sempre elaborado pelo Grand Chef. Sua receita secular é aprendida na prática, pois não é encontrada em livros “modernos”. É um prato extremamente bem aceito, arrojado, refinado, neoclássico e preenche páginas e páginas de revistas especializadas em vendas. O Macarrão Clássico é servido em restaurante-alta-classe, onde não se diferencia cult de kitsch.

           Os dois primeiros pratos representam os grandes “filões” de mercado, mas há, também, o Macarrão prêt-à-porter, especializado, tecnicamente competente, cozinha rapidíssimo, porém tem uma única receita, sem recriações. É um prato feito em série com marca, logomarca, padrão corporativo. O Macarrão prêt-à-porter tem seus sabores, mas não tem a assinatura do Grand Chef.

           Por último, o melhor Macarrão Gourmet. Poucos têm a felicidade de discutir sua receita, com qualidade, senso crítico e conteúdo cultural. O Macarrão Gourmet é o prato mais refinado,  destinado a não apenas matar a fome do corpo, mas, principalmente, matar a fome da alma.

           Pense nessas receitas e lembre-se, que em nosso país, há uma legião de famintos e que Macarrão tornou-se prato para poucos.

 

    Edite Galote Carranza
    é mestre pelo Instituto Presbiteriano Mackenzie em 2004; doutora pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP em 2013 com a tese “Arquitetura Alternativa: 1956-1979”; diretora do escritório de arquitetura e editora G&C Arquitectônica e da revista eletrônica 5% arquitetura + arte ISSN 1808-1142. Publicações em revistas especializadas, livros Escalas de Representação em Arquitetura, Detalhes Construtivos de Arquitetura e O quartinho invisível: escovando a história da arquitetura paulista a contrapelo. Professora da graduação e pós-graduação da Universidade São Judas Tadeu.
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