São Luiz do Paraitinga
EDITE GALOTE CARRANZA
Localizada a 170 km, da cidade de São Paulo, na rodovia que liga Taubaté a Ubatuba, São Luiz do Paraitinga possui um dos maiores conjuntos de arquitetura colonial do Estado de São Paulo.
São Luiz do Paraitinga é uma pequena Estância Turística localizada na Serra do Mar. É uma boa opção de passeio para quem deseja aproveitar o clima serrano num passeio ecológico, praticar esportes radicias como rafting, rappel, tirolesa, biking e cavalgadas ou mesmo desfrutar da anual Festa do Divino.
Para os amantes do estudo da arquitetura, São Luiz do Paraitinga preserva 90 bons exemplos de arquitetura colonial, declarados de interesse paisagístico pelo CONDEPHAT. Em um deles, um casarão do século XIX, onde nasceu o mais célebre filho da cidade, o sanitarista Dr. Oswaldo Cruz.
O conjunto arquitetônico de São Luiz do Paraitinga está distribuído em dois núcleos distintos: o urbano e o rural. No meio rural são vários exemplares de casas sedes de fazenda do período áureo da lavoura de café. A maioria localiza-se no distrito de Cataçaba e foram construídas na segunda metade do século XIX, são elas: Boa Vista, Fábrica, Rio Claro, Chapéu, Da pinga, São Luiz, Pinheirinho e Paineiras.
No meio urbano, a capela de Nossa Senhora das Mercês é uma das construções mais antigas da cidade, datada do final do século XVII.
No centro da cidade, em torno da praça Oswaldo Cruz [fig. 2,3 4 e 5], localizam-se a Igreja Matriz de São Luiz de Tolosa, a Prefeitura Municipal e um conjunto de casarões, os quais ostentam belos balcões de esmerado trabalho de serralheria e vidraças voltadas para o exterior - ícone de status naquela época.
A Igreja Matriz de São Luiz de Tolosa [fig.1], data do século XIX, passou por várias reformas e mais recente em 1930. É um exemplar de arquitetura de inspiração Jesuítica, modelo cuja origem remonta a arquitetura maneirista italiana do século XVI.
A principal fonte de inspiração do modelo jesuítico foi a primeira igreja construída para a Companhia de Jesus, a igreja Gesú, de Roma, em 1568, projeto do arquiteto Giacomo G. da Vignola concluído por Giacomo Della Porta.
O modelo jesuítico segue o receituário renascentista italiano, no que tange ao vocabulário ornamental, com cornijas, volutas, colunatas e capitéis. Suas principais características, no entanto, são a nave única e a conformação das fachadas, sempre altas e planas, subdividida em planos menores horizontais e verticais, cujos retângulos resultantes são compostos com aberturas de portas ou janelas, nichos além do frontão triangular.
A Igreja Matriz possui duas torres sineiras, que são características da variante monumental do modelo.
Em geral, esta composição procura unir as torres ao frontão central por meio de volutas e contra volutas em relevo. As torres são arrematadas com abóbodas tipo “ meia laranja” e o perímetro da torre adornado com pináculos.
Segundo informações do professor Francisco de Assis Monteiro, colhidas no site da Prefeitura , a Igreja Matriz [fig. 6] foi construída no século XIX, com embasamento de taipa-de-pilão e pedras.
Na parte alta da cidade, encontram-se o cemitério e a Igreja do Rosário [fig.7] -antiga matriz da cidade, construída no século XIX, com paredes em taipa-de-pilão. Foi reformada em 1920 quando assumiu uma feição em estilo eclético de inspiração neogótica.
Ao lado da Igreja do Rosário [fig.8], um conjunto de casas humildes de "porta-e-janela", todas justapostas com a cumeeira do telhado paralela à rua. Certamente, a única casa que se manteve original é a de cor creme com janelas azuis. As demais foram reformadas sem critério, e estão historicamente descaracterizadas.
Na rua lateral à Igreja do Rosário, um grande conjunto [fig.9] de casas alinhadas apresentamestado de conservação heterogêneo, algumas reformadas [fig.11], outras em franca "decomposição" [fig.13 e 15], estas são os melhores exemplos para observar as características originais e o sistema construtivo desse conjunto.
Nesta casa [fig.13] é possível deduzir o sistema construtivo. É quase certo que os alicerces sejam de pedras e barro, pois há uma saliência entre o piso e o início da vedação - solução comumente empregada naquela época. Na parte aparente [fig.14] é possível observar a viga baldrame que recebe a coluna vertical (esteio) ambos de madeira. A vedação em alvenaria de adobes [ tijolos de barro secos ao sol] assentados e revestidos com barro.
Em outra casa [fig.12] é possível observar outro sistema construtivo a taipa-de-mão ou taipa-de-- sopapo, constituído por uma trama de madeiras roliças, fixas perpendicularmente aos baldrames por meio de furos, nestas são amarradas peças horizontais mais finas e depois, concluída a trama, esta recebe uma camada de barro que é arremessado e apertado sobre ela, resultando numa superfície lisa. Este sistema construtivo era empregado tanto nas paredes externas quanto internas tanto nas casas terras quanto nas casas assobradadas [fig.16].
Nas parte baixa da cidade, nas proximidades do Mercado Municipal, encontra-se outro núcleo, mais recente, de casas ecléticas de inspiração variada. Algumas delas exibem a data de construção na fachada, a maioria por volta de 1920 [fig. 17].
Ao que parece, a cidade não está recebendo a devida atenção do poder público, pois énotável as iniciativas particulares de "restauro" sem a devida orientação técnica, o que a longo prazo, certamente, descaracterizará o que ainda resta de autêntico e valioso.
Mas, apesar dos problemas, São Luiz do Paraitinga merece ser visitada.
Bibliografia
TOLEDO, Bendedito Lima de. Do século XVI ao início do século XIX: maneirismo, barroco e rococó. IN: Zanini, Walther, org – História Geral da Arte no Brasil. São Paulo, Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v.1, p.89-298.
VASCONCELOS, Sylvio de Carvalho. Arquitetura no Brasil: sistemas construtivos, 4ed.: Belo Horizonte: Escola de Arquitetura, 1961.
Fotografias
Edite Galote R.Carranza e Ricardo Carranza
Agradecimento:
Prefeitura Municipal de São Luiz do Paraitinga
Nota: Sobre os festejos de carnaval e outras informações interessantes, veja o artigo "Carnaval caipira em São Luiz do Paraitinga. Chuva, suor, cerveja e chita" , do Arquiteto Abílio Guerra
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