Casa C. Lunardelli, 1968
uma reunião na revista italiana Domus, que resultaria na primeira publicação internacional de seu trabalho, além de Paris (pré “Maio 68”) onde conheceu soldados drop-out – desertores da Guerra do Vietnã. A concepção do projeto reflete a visão de mundo do jovem, sensível às mudanças culturais e contraculturais daquele emblemático ano de 1968.
As colunas são embutidas nas alvenarias. As lajes maciças e aparentes, de 15 cm de espessura, possuem inclinações acentuadas; para sua execução foi adotada uma técnica de concretagem em anéis periféricos, que avançam para o topo, como um caracol. A técnica foi desenvolvida por Daniel Ursic, mestre-de-obras iuguslavo e apresentou ótimo desempenho; dispensaram impermeabilização e não apresentaram infiltrações ou quaisquer patologias do concreto por décadas. A concepção plástica singular da casa se aproxima mais das tendências do cenário arquitetônico internacional, da “terceira geração” de arquitetos modernos definida por Montaner, do que da arquitetura paulista brutalista e seu repertório de “caixas portantes”, ênfase na solução estrutural aparente, desejo de industrialização e serialização.
A Casa foi minuciosamente detalhada, pois o arquiteto sempre se dedicou muito aos desenhos seguindo os ensinamentos de seu mestre Franz Heep. São vários detalhes criativos tais como: a porta de entrada com parafusos transpassantes e vidros azuis; camas suspensas por correntes e ganchos presos à laje; claraboias de vidro temperado para iluminação zenital; além dos sofás, mesinhas e armários vinculados à edificação, com leiaute rígido. Contudo, o detalhe que merece maior atenção é a escada helicoidal, que além de ser um elemento de acesso direto e discreto entre suíte principal e porta de entrada, é uma verdadeira escultura. A escada foi construída com peças de madeira torneadas, que ao serem sobrepostas formam um degrau completo: piso e espelho. Os degraus, que giram em torno do eixo central, são unidos por cavilhas e parafusos uns aos outros, resultando numa escada-escultura, autoportante e que dispensou o necessário corrimão. O detalhe é representativo da postura do arquiteto pautada na liberdade de expressão e subjetividade artística, em todas as escalas, pois segue o lema daquela Geração AI-5: “É proibido proibir”.
Ficha técnica:
Casa C. Lunardeli, Loteamento Praia de Pernambuco, Guarujá, SP, 1968.
Projeto: Arq. Eduardo Longo
Construção: Daniel Ursic
No ContentReferências:
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