Neo-Ecletismo em Perdizes

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INTRODUÇÃO

O bairro de Perdizes, localizado na zona oeste da cidade de São Paulo, passa por notória transformação. Quadras inteiras de sobrados geminados-classe-média estão desaparecendo,  para dar lugar à empreendimentos de edifícios residenciais de alto padrão.  A reboque da verticalização, seguem-se outras transformações, como, por exemplo, novos estabelecimentos comerciais – bares noturnos, restaurantes e lojas refinadas,  voltados ao novo perfil de clientes que se forma.

Neste processo, outra transformação passa desapercebida pelo público em geral, a linguagem arquitetônica uniforme, empregada na grande maioria dos empreendimentos. Os edifícios “neoclássicos”, como são popularmente conhecidos, estão dando uma nova feição ao bairro.

Estes “novos” edifícios  serão vizinhos dos “antigos” projetos modernos, importantes para a história da arquitetura, como o Edifício João Ramalho, de 1953, dos arquitetos Croce, Aflalo e Cândia, Casa Czapski, de 1949, de Vilanova Artigas, Igreja São Domingos, de Adolf Franz Heep, de 1953, casa Antonio Dèlboux, de 1962 de Carlos Millan ou ainda, o Edifício Estação Telesp, de 1977 de Sérgio Teperman e Paulo Lepage.

Mas, quais seriam as razões dessa preferência e uniformidade de linguagem arquitetônica?

Uma das respostas talvez seja o sucesso de público.

Mas qual seria a resposta da crítica? Esta uniformidade seria um reflexo do momento de “pluralidade”  de linguagem arquitetônica, característica dos projetos pós (depois) Movimento Moderno? 

O presente artigo não tem a pretensão de responder, mas refletir sobre o Neo-Ecletismo em Perdizes.

UM POUCO DE HISTÓRIA : NOMENCLATURAS

A linguagem clássica esteve presente por toda história da arquitetura ocidental. Desde sua origem, na antiguidade greco-romana, até nossos dias recebeu diferentes denominações de acordo com o país e período histórico de sua manifestação[i]. Devido sua importância e longevidade a primeira dificuldade que nos deparamos é encontrar o termo apropriado,  para nos referirmos às manifestações atuais que utilizam esta linguagem.

  Segundo o arquiteto Carlos Lemos, a linguagem clássica ou estilo classicizante foi introduzida em São Paulo, de forma “erudita” ou “ortodoxa”, por Ramos de Azevedo[ii], quando projetou as sedes da Secretaria da Fazenda e da Agricultura, no então, Largo do Palácio, em 1886.

“ Estes dois edifícios de Ramos vieram completar a face sul do Lardo do Palácio, impressionando a todos com sua arquitetura erudita, pois até então, o centro urbano só conhecera construções ecléticas no sentido mau da palavra (...) As secretarias tão imponentes e severas, atendiam o receituário acadêmico regido por Vignola” (LEMOS, 1983, p. 302).

Ramos de Azevedo[iii] dividia seu tempo entre seu escritório e as atividades no meio acadêmico. É marcante sua atuação tanto no Liceu de Artes e Ofícios, responsável pela formação de mão-de-obra especializada, quanto na Escola Politécnica, responsável pela formação dos primeiros profissionais engenheiros- arquitetos. Nestas escolas, o livro de Vignola[iv] era Lei.

  As secretarias (fig.1) de Ramos de Azevedo se destacaram no cenário arquitetônico daquela época, pois foram construções que expressavam o Neoclássico,  “erudito”, advindo das influências mais recentes do cenário internacional, em contraponto à produção local marcada pelo Ecletismo.

 

Figura 1 - Largo do Palácio em 1903. Fonte: Arquivo Iconográfico da Prefeitura de São Paulo.Figura 1 - Largo do Palácio em 1903. Fonte: Arquivo Iconográfico da Prefeitura de São Paulo.

                                                                                                           

O Ecletismo na arquitetura paulistana tem início a partir da segunda metade do século XIX, em decorrência da ascensão econômica-política da cidade de São Paulo. O Ecletismo poderia ser definido como uma produção arquitetônica que engloba diversas referências historicistas e classicizantes, muitas vezes até superpostas, com muita liberdade de expressão e repertório.

O arquiteto Carlos Lemos classificou a arquitetura Eclética paulistana em sub-grupos, definidos a partir de seu repertório predominante, como por exemplo: Art-nouveau, romântico (chalés alpinos), neogótico, neo-românico, estilo missões, neocolonial, neoclássico e neo-renascentistas.  Dentro dessa “miscelânea”, as construções que empregaram a linguagem clássica se destaram pelo repertório mais homogêneo [v].

   Podemos concluir, portanto, que os Edifícios “Neoclássicos” , do Bairro de Perdizes, ao qual nos referimos anteriormente, tem sua referência principal no período Eclético, e que sua linguagem arquitetônica agrega, tanto o repertório do estilo Neoclássico (ortodoxo) aprendido na Academia, quanto o Neo-renascentista,  nas versões italiana, francesa e alemã.  Assim, podemos concluir, também, que a nomenclatura mais adequada para estes edifícios não seria Neoclássicos e sim  Neo-ecléticos.

A PERMANÊNCIA DOS ESTILISMOS

Na arquitetura, as primeiras manifestações modernas legítimas são atribuídas a dois artigos publicados na imprensa. O primeiro do arquiteto Rino Levi, brasileiro, filho de imigrantes italianos, formado em Roma, foi publicado no jornal o Estado de São Paulo em 15 de outubro de 1925 “A arquitetura e a estética das cidades” [vi]. O segundo de Gregori Warchavchik, arquiteto russo, formado em Roma, publicado em 1 de novembro do mesmo ano, intitulado “Acerca da Arquitetura Moderna” [vii]. Warchavchik será responsável pela construção da primeira residência moderna brasileira, em 1927, na Rua Santa Cruz, na cidade de São Paulo.

Naquela época a sociedade paulista era conservadora preferindo o academismo na arquitetura, conforme análise da historiadora Maria Cecília N.Homem: 

“Em 1925, ano que Rino Levi e Gregori Warchavichik chegaram a São Paulo, encontraram uma opinião pública pouco evoluída e pouco sensível aos valores estéticos. Predominavam as cores vivas, materiais caros, aspectos luxuosos do conjunto e dos pormenores arquitetônicos. Nas residências, mantinham-se o propósito de afirmação dos proprietários. O academismo na arquitetura permanecia em voga tanto oficialmente quanto para a burguesia conservadora, aliado a uma interpenetração populesca do mesmo. Lembramos que o grande público, em geral, permaneceu à parte da Semana de Arte moderna de 1922, e de suas manifestações paralelas.”[viii]

O  discurso do Movimento Moderno era totalmente contrário aos “estilismos” por “uma nova arquitetura” :

"Encontrarão os nossos filhos a mesma harmonia entre os últimos tipos de automóveis e aeroplanos de um lado e a arquitetura das nossas casas do outro? Não, e esta harmonia não poderá existir enquanto o homem moderno continue a sentar-se em salões estilo Luiz tal ou em salas de jantar estilo Renaissance, e não ponha de lado os velhos métodos de decoração das construções.Vejam as clássicas pilastras, com capitéis e  vasos, estendidas até o último andar de um arranha-céu, numa rua estreita das nossas cidades É uma monstruosidade estética

Gregori Warchavchik [ix]

O responsável pelo primeiro passo em direção a transformação do meio Acadêmico da Arquitetura, no Brasil, foi o arquiteto Lúcio Costa, quando em 1930, assumiu a direção da Escola Nacional de Belas Artes a  ENBA, na cidade do Rio de Janeiro.

A frete da ENBA, uma das primeiras providências de Lúcio Costa foi nomear  novos professores “novos em idade e novos na mentalidade” [x] . Os professores convidados foram: Gregori Warchavchik, Affonso Reidy, Alexandre Budeus e Emílio Baumgarten. Com o novo corpo Docente, ele empreende uma nova diretriz do curso da ENBA,  baseado nos princípios do racionalismo, funcionalismo, e na criação arquitetônica moderna, abandonando, portanto, tratados de arquitetura como o livro de Regras de Jacopo Barozzi Vignola, de 1562.

“Com a sua nomeação para a diretoria da ENBA. Lucio Costa, formado pela mesma velha ENBA, famoso cultor do nosso ‘colonial’, conseguiu transformar um museu numa escola viva, onde se começava a ensinar arquitetura.[...] Passamos de uma longa fase de cópias de modelos e fórmulas arquitetônicas, para a criação. [xi]

"Fazemos cenografia, "estilo", arqueologia fazemos casas espanholas de terceira mão, miniaturas de castelos medievais, falsos coloniais, tudo menos arquitetura"

Lucio Costa [xii]

Em 1947, na cidade de São Paulo, foi fundada a Faculdade de Arquitetura Mackenzie, por iniciativa do arquiteto  Christiano Stokler das Neves [xiii].

.Um ano depois, em 1948, foi criada a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, descendente do curso de engenheiros-arquitetos da Escola Politécnica, depois extinto em 1954. A criação dessas novas Faculdades significou a formação de uma nova geração de profissionais os denominados arquitetos.

Com o passar dos anos, naquelas duas Faculdades, os cursos se voltaram definitivamente para o Modernismo na Arquitetura. Ocorreu, porém, que independente da nova diretriz dos cursos, não houve a ruptura definitiva com a linguagem arquitetônica vinculada aos “estilismos”, e muitos arquitetos continuaram utilizando esta linguagem principalmente, em construções residenciais, conforme análise do arquiteto Carlos Lemos:

“ Se desejarmos analisar o quadro global das construções desde aqueles primórdios do século passado até hoje, a quinze anos do século XXI, veremos que, em momento algum, houve uma unidade universal de pensamento, uma uniformidade nas intenções plásticas. Houve dentre outras, uma diretriz dita modernista no ensino da arquitetura em quase todas as escolas do mundo, acredtiamos; mas isso não dói suficiente `^a plena aceitação da nova estética racionalista.

No amplo quadro universal das construções os modernistas não puderam abafar as tradições vernáculas,as manifestações saudosistas, a persistência \~dos estilos.”

(...) Miscelânea geral e por isso achamos que ainda não saímos do Ecletismo. Melhor dizendo, a complacência do Ecletismo tornou-se mais abrangente e chegou aos nossos dias. Na era da comunicações de massa.”   (LEMOS, 1985, P. 71).

IDEOLOGIA X TRADIÇÃO X MERCADO

  Retomando a pergunta inicial: Quais seriam as razões dessa preferência e uniformidade de linguagem arquitetônica no Bairro de Perdizes? Nossas reflexões não devem se limitar ao discurso da vanguarda do Movimento Moderno, pois temos, hoje,  um cenário arquitetônico pautado pela pluralidade de discursos arquitetônicos.

Talvez a preferência por edifícios residenciais Neo-Ecléticos seja uma iniciativa dos empreendedores imobiliários, ou , em última estância,  do público consumidor. Neste caso, os Edifícios Neo-ecléticos,  seriam uma proposta de marketing firmemente atrelada ao público alvo,  no caso, a classe média alta paulistana. Esta resposta estaria na linha de pensamento de Umberto Eco :

   "A arquitetura move-se numa sociedade de mercadorias, está sujeita a determinações de mercado, mais do que as outras atividades artísticas e tanto quanto os produtos da cultura de massa.O fato de que um pintor esteja sujeito do jogo das galerias, ou de um poeta tenha que fazer contas com editor, pode influenciar praticamente a sua obra, mas nada tem a ver com a definição de seu trabalho.De fato, o desenhista pode desenhar para si e para os amigos, e o poeta escrever sua obra num único exemplar pra a amada, mas o arquiteto(a menos que formule no papel um modelo utópico) não pode ser arquiteto senão inserindo-se num circuito tecnológico e econômico e procurando assimilar-lhe as razões ainda quando quer contestá-las." [xiv]

Mas o público alvo e os empreendedores estão contando com diversos arquitetos engajados. Assim, qual seria o motivo da preferência de alguns arquitetos em se “especializar”, em pleno século XXI, em projetar edifícios Neo-Ecléticos?

Esta preferência não é uma exclusividade dos arquitetos que atuam no bairro de Perdizes, pois no cenário da arquitetura internacional, na década de 1980, esta preferência esteve na pauta das discussões. Dessa forma, talvez os arquitetos dos edifícios Neo-Ecléticos estejam seguindo o pensamento arquitetônico internacional.

Esta resposta vem ao encontro do pensamento de Charles Jenks, quando argumenta sobre a utilização da linguagem clássica, no "classicismo pós-moderno", conforme ele disse:

   (...) A arquitetura , a mais pública das artes, tem que comunicar e, portanto, precisa de um estilo e de um  conjunto de convenções que são genéricas, flexíveis e bem conhecidas. O classicismo pós-moderno tem estes atributos dado que sintetiza  o realismo técnico do Modernismo e os arquétipos universais do Classicismo.Foi adotado em muitos países e uma breve lista de arquitetos significativos que usam este estilo porá em relevo o seu caráter ecumênico. No Japão, não só Arata Isozaki realizou cinco ou mais edifícios neste estilo, mas o mesmo fizeram Minoru Takeyama, Kazuhiro Ishii,Takefumi Aida e Toyokazu Watanabe.Na Noruega,Jan Digerud e Jon Lundberg praticam uma versão leve e despreocupada do mesmo estilo, ao passo que o cantão suíço de Ticino, Mario Botta usa a mesma linguagem de uma forma muito rigorosa e fundamentalista, numa reminiscência de Le Corbusier.Os americanos com Venturi,Stern, Moore e Graves, continuam o vento da versão realista e não espanta que o primeiros arranha-céus neste estilo tenham sido realizados aqui: os Ulrich Franzen, Helmult Jahn e, evidentemente, Philip Johnson (...)

O estilo é flexível, capaz de se adaptar ao local e aos edifícios adjacentes- como mostra a Clore Gallery de James Stirling(...) Evidentemente que o estilo não resolve os problemas sociais, mas pode articulá-los e celebrar os  valores sociais: não é um substituto para o conteúdo, mas pode torná-lo manifesto.O estilo, uma linguagem arquitetural, é a condição sine qua non da comunicação e o Classicismo Pós-moderno emergiu por ser uma necessidade pública.Permite também à arquitetura ser aquilo que ela tenta sempre tornar-se -uma arte fruível." [xv]

Mas será que o Neo-Ecletismo no bairro de Perdizes seria, mesmo, um reflexo do pensamento do cenário arquitetônico internacional? 

Ao que parece, os edifícios Neo-Ecléticos do bairro de Perdizes, não participam desta discussão internacional mais ampla ou que tenham algum vínculo ideológico, pois, sua linguagem representa a reprodução de um modelo consagrado na cidade de São Paulo. Portanto, trata-se de uma “polêmica de gostos” na linha de pensamento de Pareyson:

   (...) a estética tem um caráter filosófico e especulativo enquanto que a poética, pelo contrário, tem um caráter programático e operativo, não devemos tomar como estética uma doutrina que é . essencialmente uma poética, isto é, tomar como conceito de arte aquilo que não quer ou não pode ser senão um determinado programa de arte. Uma doutrina que propõe traduzir em normas ou modos operativos um determinado gosto pessoal ou histórico, somente por uma radical deturpação pode, apresentar-se ou ser interpretada como uma teoria que se esforça por atingir a universalidade e propor um conceito geral de arte; aquilo que é legítimo quando entendido como programa de arte torna-se absurdo se se pretende valer como conceito de arte. Apresentar ou tomar  por geral e universal aquilo que é particular e histórico, por especulativo aquilo que é operativo e normativo. por teoria filosófica da arte aquilo que é programa de arte,significa confundir os planos: impingir ou interpretar como estéticas aquelas que não são senão poéticas, permanecer na esfera do gosto, pretendendo encontrar-se na da filosofia aquilo que só vale na esfera do gosto.

   O estético, como tal, não toma posição em questões de poéticas. Diante das freqüentes batalhas que elas travam entre si, ele evita, com cuidado, transformar em divergência filosófica aquilo que é,substancialmente, uma polêmica de gostos.Antes, ele deverá esforçar-se o mais possível por não fazer intervir seu próprio gosto na sua própria teoria. [xvi]

  Seguindo este raciocínio, os arquitetos dos edifícios Neo-Ecléticos do Bairro de Perdizes, reproduzem um modelo consagrado na cidade de São Paulo, para atender a solicitação de seus clientes. De forma que seu trabalho torna-se independente de ideologias, formação acadêmica, teorias ou mesmo de “polêmica de gostos”.

Esta afirmação segue a linha de pensamento de Alan Colquhoun, em seu artigo “ Classicismo e ideologia”, de 1983. Segundo ele, o retorno dos arquitetos ao clássico repousa “sobre o profundo ecletismo da cultura moderna” e que os arquitetos contemporâneos tendem a fundamentar sua preferência mais na “beleza e na tradição clássica” do que nos vínculos ideológicos.

“ Os fatos sugerem que o classicismo não poder ser identificado objetivamente com nenhum conteúdo ou ideologia específicos. Mas que, em vez disso, é uam tradição arquitetônica capaz de atrair uma multidão de significados diferentes e contraditórios para dentro do mesmo amplo ambiente cultural.” [xvii]

“ De fato, parece que o classicismo contemporâneo pode ser avaliado segundo a medida em que o arquiteto prefere ironia ao problema de relacionar o mundo moderno aos valores do passado”[xviii]

CONCLUSÕES

Toda esta reflexão a respeito dos edifícios Neo-Ecléticos do bairro de Perdizes, tem como foco nossa preocupação sobre o papel do arquiteto enquanto produtor cultural, ou seja , enquanto produtor de formas e conceitos capazes de representar sua época e cuja orientação Plástica, deveria ser a proposição de novas soluções.

 Assim, ainda caberiam mais alguns questionamentos a cerca do surto Neo-Eclético no bairro de Perdizes, tais como :

 Qual será a herança cultural que essa produção deixará?

 Qual o papel dos profissionais arquitetos diante de uma solicitação por esta linguagem?

 Se considerarmos o Neo-Ecletismo em Perdizes apenas uma amostra, estaríamos passando por um momento Neo-Eclético na arquitetura paulistana?

 Esse tipo de arquitetura deixará de ser produzido um dia?

Não nos parece que este surto Neo-Eclético contribuirá para que a sociedade entenda a verdadeira essência da profissão do arquiteto. Acreditamos que, ao contrário, contribuirá desfavoravelmente, construindo a imagem de um profissional “fachadista” que atende encomendas.

Concordamos com a opinião de Alan Colquhoun, expressa em seu artigo “Três tipos de historicismo” , conforme segue :

 “ o que devemos almejar hoje é uma arquitetura que esteja constantemente consciente da própria história, mas que seja sempre crítica em relação às soluções da historia”[xix]

Para finalizar, acreditamos que o  Neo-Ecletismo em Perdizes denota, que cada vez mais, a quantidade 95% está superando a qualidade 5%. Desta forma, o discurso esperançoso do mestre Artigas, dirigido aos novos arquitetos formandos da FAUUSP, em 1955, e toda sua confiança depositada no povo, esteja caindo por terra.

   "Vemos, por outro lado, que as expressões novas da arquitetura no Brasil vêm sendo aceitas pelo povo, mesmo quando se apresenta em suas formas mais audaciosas. Podemos mesmo dizer que o povo brasileiro abre um crédito de confiança aos seus arquitetos. É nesse clima de simpatia e apoio popular que temos encontrado o maior incentivo ao nosso trabalho de criação. Contrariando o pensamento e as tendências de um pequeno grupo que ainda se apega ao ecletismo arquitetônico, a grande maioria de nossa intelectualidade logo compreendeu que os projetos dos arquitetos brasileiros revelam sempre o desejo ardente de encontrar uma solução técnica e artística adequada aos problemas da construção no Brasil.

Vilanova Artigas    [xx]

BIBLIOGRAFIA

COLQUHOUN, Alan. Modernidade e tradição clássica:ensaios sobre arquitetura 1980/1987, São Paulo: Cosac & Naify, 2004, p. 37.

ECO, Umberto. A Estrutura Ausente , Perspectiva , São Paulo, 1983.

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______ .Alvenaria Burguesa: breve história da arquitetura residencial de tijolos em São Paulo a partir do ciclo econômico liderado pelo café, 2 ed. rev.ampl.

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______. Ramos de Azevedo e seu escritório, São Paulo, Pini, 1993

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______. História da Casa Brasileira. 1º Ed. São Paulo: Contexto, 1996.

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______. A república ensina a morar (melhor).São Paulo: Editora Hucitec, 1999

PAREYSON, Luigi. Os problemas da estética , São Paulo, Martins Fontes, 1984.

SALMONI, A; DEBENEDETTI, S.  Arquitetura italiana em São Paulo. Ed. Perspectiva, 1981.

SOUZA, Abelardo. Arquitetura no Brasil depoimentos, São Paulo: Livraria Diadorim Editora e Editora da Universidade de São Paulo, 1978.

TOLEDO, Benedito Lima de. São Paulo: três cidades em um século: 3ed.ver.e ampl. São Paulo, Cosac&Naify, Duas Cidades, 2004.

XAVIER, Alberto. Depoimentos de uma geração: arquitetura brasileira. São Paulo, Pini, 1987.

 

[i]Notas a título de glossário:

1.CLÁSSICO - Arquitetura  da Grécia Antiga  que empregava as ordens :dórica,jônica e coríntia  com sistema construtivo arquitravado e que foi descrita por Vitruvio. Ver POLIÃO, Marco Vitrúvio. Da arquitetura./ Marco Vitrúvio Polião; tradução e notas Marco Aurélio Lagonegro:São Paulo: Hucitec; Fundação para Pesquisa Ambiental, 1999.

2.CLÁSSICO ROMANO- Arquitetura produzida pelo império Romano que absorveu e utilizou as ordens gregas, incorporando-as ao seu sistema construtivo de arcos e abóbodas.   

3.ROMÂNICO- Arquitetura produzida no continente europeu  no período medieval.As  igrejas românicas utilizavam elementos da arquitetura romana, como por exemplo arcos plenos.

4.RENASCENTISTA -A arquitetura renascentista  que floresceu na Itália no século XV teve inicio com  o arquiteto Fellippo Brunelleschi (1377-1446). Ele pesquisou as ruínas gregas, estudou Vitruvio e incorporou este conhecimento à sua produção criando, assim, "nova arquitetura", que resgatava a  todo o espírito da grandeza do império Romano. A Renascença foi  um período áureo,  muitos arquitetos contribuíram acrescentando  novos elementos ao vocabulário da linguagem clássica como: Bramante (1444-1514), Alberti(1404-73), Serlio(1475-1552), Palladio(1508-1580) Miguel Angelo(1475-1564). Alguns arquitetos como  Serlio e Palladio escreveram  livros descrevendo as  ordens clássicas  e toda linguagem. Ver GOMBRICH, E.H. História da Arte, Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 1988.

5.MANEIRISMO - Arquitetura produzida no período compreendido entre a segunda metade do século XVI até o século XVII. Sua característica principal é a interpretação do vocabulário da linguagem com maior liberdade. O principal arquiteto maneirista foi  Giacomo B.da Vignola (1507-73) que escreveu o livro "Regola dilli Cinqui Ordini dÁrchitectura”.

6.BARROCO - No século XVII a linguagem clássica se resumia a elementos de composição para uma forma de expressão extremamente rebuscada.Ver GOMBRICH, E.H. História da Arte, Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 1988.

7.ROCOCÓ -  Semelhante ao barroco essa forma de expressão  é  ainda mais rebuscada  foi utilizada pela igreja católica como uma forma de mostrar o fantástico mundo do céu.Ver GOMBRICH, E.H. História da Arte, Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 1988.

8.LUIZ XIV, XV e XVI - Trata-se da versão francesa da utilização da linguagem clássica que recebeu denominações peculiares de acordo com sua história.

9.NEOCLÁSSICO-  Também conhecido como Neogrego, é um estilo arquitetônico que procurava resgatar a linguagem clássica  mais pura ,ou seja,sem as interferências do renascimento. O jesuíta Laugier com “ Essai sur Lárchitecture, em 1753, e o arquiteto Sir William Chambers (1726-96) com “ A treatise on civil architecture”, foram os precursores da crítica ao renascimento. Chambers afirmava que o fundamento da arquitetura como arte estava na aplicação adequada das Ordens. Esta nova postura, na maneira de ver a arquitetura, segue as mudanças sociais da "Era da Razão". Na França, após a Revolução Francesa,  este estilo se tornou predominante e quando Napoleão chegou ao poder,  o "estilo neoclássico"se tornou o "estilo do Império". Ver GOMBRICH, E.H. História da Arte, Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 1988.

10.CLASSICISMO PÓS-MODERNO - Denominação utilizada por Charles Jencks para a produção arquitetônica  posterior ao Movimento Moderno, que utiliza elementos da linguagem clássica   como um "revival" de todos os classicismos aos mesmo tempo.Essa característica marca a produção de alguns arquitetos como: Ricardo Bonfil, Robert Venturi, Rossi e Michael Graves entre outros. (Ver entrevista de Charles Jenks "Neoclassicismo e Pós-modernismo"  Revista Projeto, número 124)   

[ii] Francisco de Paula Ramos de Azevedo, nasceu em 1851, em São Paulo. Formado, ingenieur architecte (engenheiro arquiteto), em 1878, pela Universidade de Gand, Bélgica.

[iii] Sobre Ramos de Azevedo ver:  LEMOS, Carlos A.C.  "Ramos de Azevedo e seu escritório", São Paulo, Pini, 1993

[iv] Giacomo B.da Vignola(1507-73) escreveu o livro "Regola dilli Cinqui Ordini dÁrchitectura" uma verdadeira "biblia" para os engenheiros-arquitetos.

[v] Ver “ o texto “Ecletismo em São Paulo” . de Carlos Lemos.

[vi] Xavier, Alberto. Depoimentos de uma geração: arquitetura brasileira. São Paulo, Pini, 1987, p.21.

[vii] Xavier, Alberto. Depoimentos de uma geração: arquitetura brasileira. São Paulo, Pini, 1987, p.23.

[viii] HOMEM, Maria Cecília N. Sobre a Construção da capital do café e da indústria (1875-1930). [In] Warchavchik, Pilon, Rino Levi: Três momentos da arquitetura paulistas. Museu Lasar Segall, 1983, p. 45.

[ix] WARCHAVCHIK, Gregori   "A cerca da arquitetura moderna" in Correio da manhã, Rio de Janeiro, 1 nov. 1925

[x] SOUZA, Abelardo. Arquitetura no Brasil depoimentos, São Paulo: Livraria Diadorim Editora e Editora da Universidade de São Paulo, 1978. p. 27.

[xi] Op.cit. p. 26

[xii]COSTA, Lúcio  "Tudo menos arquitetura" entrevista concedida em 1930, in  Folha de São Paulo, São Paulo, 23 julho 1995.

[xiii] Stokler das Neves, nascido em Casa Branca, interior de São Paulo, em 1889, engenheiro-arquiteto, formado na Escola Politécnica de São Paulo. Estudou, também, na Escola de Arquitetura da Universidade da Pensylvania, EUA, no período de 1908 a 1911. Esta última escola usava os métodos Beaux Arts, por “encarar a arquitetura como uma arte, mas também por enfatizar o progresso tecnológico”. Stokler das Neves é autor de inúmeros projetos na cidade de São Paulo, entre eles a Estação Júlio Prestes, no bairro da Luz, em 1926. Contrário às idéias do Movimento Moderno, sua presença foi  marcante e definitiva para a formação da Faculdade de Arquitetura Mackenzie, a qual dirigiu até 1956, ano de sua aposentadoria. 

[xiv]ECO, Umberto "A Estrutura Ausente"  Perspectiva , São Paulo  p. 225

[xv] JENKS, Charles "Movimentos Modernos em Arquitetura"São paulo, Martins Fontes, 1985 p.365

[xvi]PAREYSON,Luigi "Os problemas da estética" São Paulo, Martins Fontes, 1984

[xvii] COLQUHOUN, Alan. Modernidade e tradição clássica:ensaios sobre arquitetura 1980/1987, São Paulo: Cosac & Naify, 2004, p. 195.

[xviii] Op. Cit. P. 196.

[xix] COLQUHOUN, Alan. Modernidade e tradição clássica:ensaios sobre arquitetura 1980/1987, São Paulo: Cosac & Naify, 2004, p. 37.

[xx]ARTIGAS,Vilanova. Caminhos da arquitetura/ João Batista Vilanova Artigas, 2.ed. São Paulo, Pini : Fundação Vilanova Artigas, 1986.

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