Proposta de um Parque Cultural Urbano para o Município de Treze Tílias, SC

Categoria: Projetos Teóricos

INARA PAGNUSSAT CAMARA

KELLY FERTING

Ao longo do surgimento e evolução das cidades, as áreas públicas com predominância de elementos naturais sempre foram almejadas pela população que buscava por um espaço para o convívio social. Esses locais proporcionam integração com as áreas já construídas e de circulação, ocasionando por sua vez, grande relevância estética, o que influencia de forma positiva na paisagem urbana. O presente estudo abrange uma pesquisa para a proposta de um Parque Cultural Urbano no município de Treze Tílias/SC e tem como objetivo, a criação de um espaço que promova além do lazer aos usuários, a preservação e a manutenção da cultura local. A metodologia busca esclarecer os conceitos dos espaços livres públicos, em especial dos parques urbanos e é complementada através de levantamento de dados urbanísticos da área e pesquisas quantitativas sobre a sua implantação.

 Introdução

Parques urbanos são elementos notórios nas cidades contemporâneas. Proporcionam convívio social, equilíbrio ambiental e são valorosos indutores de vitalidade urbana. Entretanto, nem sempre foram vistos como espaços de lazer. Em dado momento, na formação da maioria das cidades brasileiras, os parques eram apenas locais de passeio e contemplação para a nobreza e utilizados com finalidades botânicas. A partir da revolução industrial e do acelerado crescimento das cidades, os parques foram sendo implantados para a população usufruir de espaços de caráter público e com finalidade de lazer e recreação.

Como nosso foco nesta pesquisa é acerca dos parques urbanos e suas finalidades sociais, entendemos como conceito principal destes espaços, os descritos por Para Macedo e Sakata (2003), que afirmam que parque urbano é todo espaço livre de uso público, que abranja a coletividade podendo conter uma diversidade de massa verde, a presença de elementos naturais (água, árvores), áreas de lazer, com diversidade de práticas, tanto esportivas como culturais e não apenas a destinação básica do lazer contemplativo. Podem ainda, possuir caráter cultural ou histórico, no contexto da cidade ao qual está inserido.

Camara e Moscarelli (2019) afirmam que quando espaços possuem predominância verde (jardins, praças e parques) eles contribuem para a infraestrutura verde, com benefícios para a dinâmica urbana e para a saúde física e psicológica dos usuários que vivem próximos a estes espaços. As autoras ainda afirmam que os elementos que compõem um espaço geográfico podem evocar fortes respostas emocionais resultantes da experiência estética experimentada. Estas respostas emocionais, como prazer, relaxamento (NASAR, 1990, 1994; RUSSEL; SNODGRASS, 1987) ou ainda, medo, frustração e raiva (PIZZATO et al., 2012) acabam por modificar, ou definir a avaliação do indivíduo quanto à qualidade do espaço urbano.

Atualmente há uma infinidade de parques urbanos espalhados pelas cidades do mundo, que além de proporcionarem atividades de lazer e o contato do homem com a natureza, integram em seu projeto a cultura existente no local. Entretanto, estes espaços são diferenciados fisicamente e morfologicamente de acordo com cada cultura.

Ainda, podemos entender o conceito de cada parque, podendo ser com caráter de lazer, contemplação, histórico, botânico, tecnológico entre tantos outros. Um exemplo desta diversidade de espaços verdes, é a cidade de Treze Tílias, localizada no Meio Oeste do estado de Santa Catarina, na qual podemos perceber na paisagem urbana, a estreita relação entre os elementos predominantemente naturais e a tradição austríaca.

Nesta acepção, Treze Tílias, a cidade foco desse estudo, é um local com grande valor histórico/cultural. O município é conhecido nacionalmente pela preservação da cultura austríaca, vinda da região do Tyrol, sendo oficialmente coirmã de uma cidade na Áustria. Esta influência forte e regionalista faz com que a cidade atraia, durante todo o ano, milhares de turísticas em busca de lazer, da sua cultura e tradição e curiosidade pela semelhança da cidade com os alpes austríacos. A cidade possui boa e diferenciada estrutura hoteleira, entretanto, como exemplo de outras regiões turísticas brasileiras, possui um custo mais alto de hospedagem, gastronomia e lazer.  

Levando em consideração esses aspectos, o munícipio carece de espaços livres públicos que proporcionem convivência e lazer aos visitantes e seus respectivos habitantes, de maneira mais social. Os espaços disponíveis atuais são interessantes, atrativos, entretanto pouco remetem à cultura, ficando a tarefa a cargo dos espaços privados. A estrutura dos espaços urbanos presente na cidade é pequena, o que causa a falta de um lugar adequado para tais práticas. Baseado nas atuais necessidades, o presente estudo propõe a implantação de um Parque Cultural Urbano no município de Treze Tílias – SC, através da criação de um ambiente que acima de tudo seja capaz de suprir a necessidade social, com uso de múltiplas atrações, para que seus visitantes e moradores se sintam atraídos e abraçados pela cultura austríaca do imigrante. 

Sistemas de espaços livres públicos – conceitos e definições

Sabemos que atualmente existem mais pessoas vivendo nas cidades do que pessoas que vivem no campo. A concentração da população mundial em centros urbanos cresceu alarmantemente desde a revolução industrial, formando cidades complexas, malhas diversas, tramas e uma morfologia particular em cada cidade. Dentre o emaranhado de sistemas que existem dentro de uma cidade, entendemos os sistemas de espaços livres (SELs) como os mais pertencentes às pessoas, com caráter público e forte referência de uma cultura maior, de um número maior de pessoas, pois são as salas de estar urbanas.

Os SELs são uma espécie de subsistema capaz de suprir as necessidades humanas e sociais em espaços de lazer, convívio e presença verde em meio a malha urbana e a densidade de edifícios, vias de tráfego intenso e muita pavimentação cinza da cidade contemporânea. Nestes ambientes, as pessoas podem socializar, descansar, utilizar como espaços de lazer, prática de turismo, esporte, diversão e em geral, possuem forte espelhamento da cultura de um local, com apelo emocional aos habitantes. O SEL é uma parte importante da estrutura urbana pois permite que a cidade possa “respirar” em meio a morfologia das vias, da topografia e principalmente da arquitetura das edificações, que sofrem diferentes transformações ao longo da história, sempre tendendo ao crescimento e densificação.

Macedo (1995), define os espaços livres[1] como sendo todos aqueles não contidos entre as paredes e tetos dos edifícios construídos pela sociedade para sua moradia e trabalho. (MAGNOLI, 2006, p.202) complementa ainda, que o espaço livre é “todo espaço (e luz) nas áreas urbanas e em seu entorno, não-coberto por edifícios”. Em outra abordagem, Pereira Costa et al. (2009), afirma que o sistema de espaços livres urbanos, seja de âmbito público, seja privado, gerado formal ou informalmente, possui uma identidade própria, síntese das condições ambientais urbanas. Os espaços livres e impermeáveis são os destinados à mobilidade de pessoas e veículos como as ruas, avenidas, passagens, os quais, com os demais, criam volumetrias, cores e texturas responsáveis pela personalidade da cidade. Entretanto, podemos considerar diversas definições de espaços livres, de acordo com a abordagem de cada área do conhecimento. Nosso foco aqui, são os espaços livres públicos, predominantemente arborizados e destinados ao lazer da população urbana.

Macedo ainda ressalta que todas as cidades possuem um sistema de espaço livre, sendo a maioria deles, resultado do processo de formação e urbanização ocorrido anteriormente na região (MACEDO, 2011). Estes espaços, que podem ser largos, praças, parques, canteiros arborizados, nada mais são, do que locais de interação social que estruturam e contribuem com a cidade, para que ela esteja viva em meio às edificações e proporcione um “respiro” urbano.

Entretanto, podemos conceituar os espaços livres de caráter público e os espaços livres de caráter privado. Para Barcellos (1999), os espaços livres privados são classificados como os jardins residenciais ou comerciais, pátios e quintais, enquanto os espaços livres de uso público são as praças, parques, ruas, largos, os quais possuem acesso irrestrito e não possuem um “dono” ou regras muito rígidas. Contudo, podemos observar que a segunda categoria, os espaços livres de uso público possuem maior complexidade, são organismos vivos e totalmente mutáveis, como a sociedade que nele vive.

O que diferencia um parque de uma praça, por exemplo, é sua extensão física e principalmente um maior número de usos e atividades que proporciona ao usuário. Podemos ainda, dividir as principais atividades realizadas em um parque como sendo passivas ou ativas: as atividades de passivo correspondem à usos mais calmos, contemplativos e visuais, enquanto as atividades de lazer ativo, são mais movimentadas, podendo ser as atividades esportivas, os playgrounds e similares. No Brasil, temos uma diversidade classificatória quanto ao uso dos parques públicos, sendo os principais os parques de convívio social, que tem como base o lazer múltiplo e os parques ambientais, destinados apenas para fins de conservação e preservação da fauna e flora.

No decorrer do século XX, novos adjetivos e denominações são utilizados para os parques como as funções esportivas, conservações ambientais, lazer sinestésico (Macedo; Sakata, 2002). De forma mais abrangente pode-se dizer, que eles funcionam como mecanismos para proteção do interesse paisagístico e cultural de uma cidade. Segundo Friedrich “essa diversidade é reflexo das necessidades, do pensamento e do gosto de um grupo, de uma época e de uma situação geográfica” (SCALISE apud FRIEDRICH, 2007, p.40).  A concepção de espaços de lazer aliadas a preservação ambiental, pode manter as características próprias do local, uma vez que a paisagem é naturalmente deslumbrante.

Nos últimos anos, é crescente a conservação de áreas de preservação ambiental e a recuperação de áreas degradadas, que se tornam causa do grande crescimento de parques urbanos. As áreas com predominância de vegetação são de extrema importância para a qualidade de vida urbana, uma vez que agem de forma positiva sobre o lado físico mental do homem (LOBODA e DE ANGELIS, 2005, p. 134). Além disso, são organismos vivos que agem nas manutenções do microclima de uma cidade, uma vez que tornam as condições ecológicas, as mais próximas dos ideais encontrados na natureza (DE ANGELIS, 2005). Os parques ambientais, além de proporcionarem melhorias na qualidade de vida e da biodiversidade, também auxiliam o processo de drenagem de águas pluviais dos corpos hídricos. Nessa Perspectiva, Chiesura (2004, p. 130), destaca: “[...] a experiência em um parque pode reduzir o estresse [...], melhorar a contemplação, rejuvenescer o morador da cidade e proporcionar uma sensação de paz e tranquilidade

Neste sentido, os parques surgem como uma área de descanso em meio a vida tumultuada das cidades. Rechia, afirma que as práticas ‘’sociais realizadas, nos interstícios da vida cotidiana, em parques públicos podem significar certa “linha de fuga” ao tumultuado meio urbano’’ (RECHIA, 2003, p. 92). O turismo é um exemplo de lazer, uma alternativa para despertar a qualidade de vida da população. No turismo, os parques públicos, culturais, ambientais e sociais vêm ganhando expressiva relevância, pois trazem consigo a tranquilidade e bem-estar a aqueles que deles necessitam.

Compreender os espaços livres públicos é um tema estudado em diferentes áreas do conhecimento, pois permite caracterizar os espaços, referenciá-los a uma determinada cultura, compreender as características físicas de uma geografia e refletir os costumes e formas de lazer de uma sociedade. No urbanismo, compreender estes espaços está relacionado com a definição de uso do solo e da propriedade urbana. É um conceito abrangente, pois são realizadas concepções em meio ao desenho da cidade, como forma de materialização das atividades sociais da população (NARCISO, 2008). Podemos entender essas concepções como as estruturas que condicionam a vida e as práticas cotidianas dos indivíduos, as representações do lugar. Essas estruturas que materializam as atividades, são fruto do desenho, podendo ser os parques, praças, ruas.

Estes espaços estão relacionados diretamente ao meio urbano de socialização, e são considerados um elemento vital para a vida aglomerada. As atividades humanas se desenvolvem através da infraestrutura acessível e contribuem para a relação do homem com a natureza. Rechia (2013) enfatiza que acima de qualquer questão, o convívio com esses espaços públicos de lazer caracteriza a vivência com a cultura e as tradições locais onde “essas práticas envolvem, pelo menos aparentemente, a relação ética com a natureza, o convívio um pouco mais harmonioso com a diferença, a autonomia e a vivência com a cultura local’’ (RECHIA, 2003, p. 92). 

Metodologia

Este estudo é parte integrante de um estudo maior sobre a proposta de implantação de um parque cultural urbano onde foram realizadas abordagens qualitativas e quantitativas acerca da perspectiva urbana do município de Treze Tílias, SC. A pesquisa qualitativa inclui diversos processos que iniciaram por revisões bibliográficas, e abordaram as concepções de sistemas de espaços livres urbanos, em especial dos parques, além da relação deles com a paisagem, população e cultura local. Ademais busca a compreensão da área por meio de visitas in loco ao terreno, levantamentos fotográficos e análise da infraestrutura existente, posteriormente utilizadas no desenvolvimento do projeto (GERHARDT e SILVEIRA, 2009).

A pesquisa quantitativa busca avaliar e demonstrar o interesse populacional pela implantação do parque e a relação das principais atividades que ele deve compor, através da aplicação de questionários previamente definidos e elaborados pelas autoras. Foram aplicados questionários através da plataforma Survey Monkey, via Internet, baseados na aplicação de uma pesquisa por Sordi (2016), para a implantação de um parque urbano no município de Quilombo. Desta forma, utilizamos como base esta pesquisa para a aplicação e adaptação à realidade de Treze Tílias. Por fim, somaram um total de 100 respondentes no período de maio a junho de 2019. Utilizamos a representação de  gráficos para apresentar os resultados da pesquisa. A seguir apresentam-se os resultados realizados pelos entrevistados. 

Treze Tílias, análise da população, cultura e lazer

Santa Catarina é um estado brasileiro localizado no centro da Região Sul. Possui cerca de 295 municípios em uma área territorial de 95.346.181 km², com uma população estimada de 6.249.682 habitantes. (SANTA CATARINA, 2017). Treze Tílias é uma cidade catarinense, localizada no meio oeste do estado, à 420 km da capital Florianópolis, com cerca de 186,642 km² de área territorial. Faz limites com as cidades de Água Doce, Salto Veloso, Arroio Trinta, Iomerê e Ibicaré. Segundo o censo demográfico (IBGE, 2010) possuí cerca de 6.341 habitantes (Figura 1). 

 Figura 1 - Localização de Treze Tílias, Santa Catarina, Brasil. Fonte: Wikipédia  (2019), adaptado pelas autoras (2019).Figura 1 - Localização de Treze Tílias, Santa Catarina, Brasil. Fonte: Wikipédia (2019), adaptado pelas autoras (2019).

Após a 2º Guerra Mundial, a fome a e miséria atingia a Europa, e como forma de fugir destes agravantes muitas pessoas residentes decidiram migrar para outros países em busca de melhores condições, inclusive habitantes da Áustria. Neste período, o então atual Ministro da Agricultura da Áustria, Andreas Thaler[1], viaja pela América do Sul, em busca de terras para instalação de uma comunidade austríaca. Em uma de suas viagens, conheceu a cidade de Ibicaré, local este, que possuía uma estação ferroviária que mais tarde facilitaria a vinda de seus conterrâneos. Andreas, decidiu então optar por terras a 15 quilômetros de Ibicaré, onde havia semelhança geográfica com as montanhas da região de Wildschönau[2], no estado do Tirol.

Em setembro de 1933, os tiroleses embarcaram em Gênova, onde viajaram oito dias em alto mar, para que chegassem no Rio de Janeiro em direção à São Francisco do Sul e depois do desembarque, através da estrada de ferro até o município de Ibicaré. Em 13 de outubro de 1933, os austríacos chegavam em terras da colônia no Oeste do estado de Santa Catarina, até então habitada apenas por indígenas e caboclos, formando mais tarde o que seria Treze Tílias. 

De acordo com o município de Treze Tílias (2019), “além da cultura austríaca, Treze Tílias recebeu descendentes de alemães (principalmente do Hundsrück e Westfalen), de italianos (principalmente de Vêneto e Lombardia), fazendo com que a cultura europeia seja muito influente na cidade e região” (TREZE TÍLIAS, 2019). Estes imigrantes pouco a pouco vão adquirindo costumes locais e adaptando os seus costumes às condições de vida e subsistência existentes nesta região.

Inicialmente, o nome dado pelo Ministro Andreas Thaler para a pequena cidade foi Dreizehnlinden, devido a um livro de poemas do alemão Friedrich W. Weber, chamado de “Die Dreizehnlinden”, que significa “Treze Tílias”. A Tília, é uma árvore nativa da região da Europa, e por coincidência se adapta muito bem à região oeste do estado de Santa Catarina.

A herança cultural vinda da Áustria, é elemento costumeiro no município que marcou diretamente a economia e desenvolvimento desta cidade, e este fato é motivo de muito orgulho da população e destaque no período das festividades culturais. As manifestações culturais estão presentes em cada detalhe. O artesanato, por exemplo, que pode ser encontrado em várias casas comerciais espalhadas pela cidade. O Bauernmalerei (pintura camponesa), com algumas das suas técnicas de pintura na madeira e as guirlandas de sementes são características da cultura. Ainda, o município conta com a Casa do Artesão, um espaço onde são expostos em conjunto os itens fabricados. 

A arte da escultura em madeira, foi iniciada com a vinda dos primeiros imigrantes tiroleses em 1933. As esculturas são feitas por diversos escultores em madeira e possuem os mais variados temas, porém a arte sacra é sem dúvida um grande contribuinte para o turismo da cidade e para que ela ficasse nacionalmente conhecida com o título de "Capital Catarinense dos Escultores e Esculturas em Madeira", tendo obras no Brasil todo, com destaque para uma obra de Cristo no Santuário São João Bosco, eleito como uma das 7 maravilhas de Brasília em 2018 pelo Bureau Internacional de Capitais Culturais de Barcelona, Espanha. A peça precisou ser desmontada e levada em partes para ser montada no então Santuário.

Na região central da cidade existem vários edifícios com valor histórico cultural e de grande beleza arquitetônica. Estas edificações, a maioria construída nos anos 90, baseadas no estilo arquitetônico Alpino Tirolês[3] da região do Tirol, são preservadas até os dias atuais. O município possui ainda, Leis próprias para preservação da arquitetura austríaca em determinadas regiões e zonas da cidade, podendo construir edificações novas somente com as características pré-determinadas. Estas orientações estão presentes no Código de Obras Municipal e no Plano Diretor de Treze Tílias.

A cidade conta com diversos pontos de visitação. Possui uma rede hoteleira com mais 20 estruturas entre grandes hotéis e pequenas hospedarias. principalmente a forte preservação das características culturais, como por exemplo a alimentação, as danças e o vestuário. Devido as diversas atrações Treze Tílias têm parte de sua economia baseada no turismo local. Conforme relatório da Prefeitura Municipal de Treze Tílias, durante o ano de 2018, cerca de 17.180 turistas passaram pela cidade, com uma média de 47 visitantes ao dia pela média anual, sendo os meses de janeiro e dezembro os períodos de maior fluxo, com cerca de 4.426 visitas/mês.

Através do pressuposto que a cultura é um fator gerador de atividades turísticas, segundo o pensamento de Coelho (1997, apud Peciar, 2010, p.02)  podemos conceituar cultura atrelada ao turismo, ''onde está remete a ideia da forma que caracteriza o modo de vida de uma comunidade em seu aspecto global, totalizante, apresentando-se sob diferentes manifestações que integram um vasto e intrincado sistema de significações''. No âmbito regional, que é o caso do município de Treze Tílias, percebe-se a participação do poder público em diversas atividades geradoras de turismo, pois ele surge como um instrumento econômico para muitas famílias residentes na cidade. Além disso, auxilia na manutenção do patrimônio cultural através do acesso a história e o modo de viver da comunidade.

Resultados e Discussões

O grupo de entrevistados no município de Treze Tílias, teve a abrangência de 12 bairros e além deles a área correspondente ao interior do Município. Dentre eles alguns se destacam, contribuindo com 26,80% dos moradores do centro da cidade, 9,20% do Bairro Santa Catarina, seguido dos Bairros, Lindner, Jardim das Flores e Portal com cerca de 8,25%, Bairro São José 5,15% e Bairro Imigrantes com 4,12%. O gráfico representativo da questão 1, demonstra se os participantes frequentariam um parque cultural urbano e com que frequência o fariam durante a semana.

É um resultado esperado que as praças e parques tenham maior uso durante os finais de semana pois são os horários em que as famílias se reúnem e possuem horários disponíveis para lazer. É aos finais de semana que as crianças e jovens não estão frequentando as escolas e estes locais servem como entretenimento e descanso para os usuários, independente da idade.

Gráfico 01 - Questão 1 - Você frequentaria o parque público cultural? Quantas vezes por semana? Fonte: SurveyMonkey (2019), adaptado pelas autoras (2019).Gráfico 01 - Questão 1 - Você frequentaria o parque público cultural? Quantas vezes por semana? Fonte: SurveyMonkey (2019), adaptado pelas autoras (2019).

A maior parte dos participantes da pesquisa frequentariam o parque e a maior frequência seria nos finais de semana com (77,55%), seguidos de um percentual de frequentadores em dias alternados (21,43%), e os que frequentariam todos os dias (2,04%). Esses dados demonstram que a existência desse tipo de parque atrairia a população local a frequentá-lo, usufruindo das atratividades deste espaço. O gráfico abaixo, representativo da questão 2,  mostra quais serviços os indivíduos gostariam de encontrar no parque.

 Gráfico 2 - Questão 2 - Quais serviços você gostaria de encontrar no parque? Fonte: SurveyMonkey (2019), adaptado pelas autoras (2019).Gráfico 2 - Questão 2 - Quais serviços você gostaria de encontrar no parque? Fonte: SurveyMonkey (2019), adaptado pelas autoras (2019).

 O ranking dos serviços que mais agradariam os respondentes seriam as pistas de caminhada com 66,67% de adesão, seguidas de 53,54% para os espaços de lazer que contemplem mobiliários como churrasqueiras e lugar para piquenique, 43,43% gostariam de encontrar quadras de esportes e atividades relacionadas, além de 35,35% que gostariam de feirinhas livres no parque, 32,32% parquinho e, por último, 25,25% gostariam de contar com espaços para exposições em geral. Estes indicadores podem ser variáveis se considerarmos o perfil etário do respondente, que pode ser atraído por playground e quadras enquanto crianças e jovens e atraídos por locais para caminhada ou academias ao ar livre, se estes forem mais idosos. As respostas também podem ser variáveis se considerarmos onde a pesquisa é aplicada, o clima predominante local e a época do ano. No entanto, entendemos que a pesquisa aqui é mais abrangente e corresponde exclusivamente a cidade de Treze Tílias. Em estudos futuros, objetivamos dividir em faixas etárias e estações climáticas.

Tendo em vista a carência dos espaços livres disponíveis relacionados a caminhada/corrida e a prática de esportes no município, observou-se que as grandes quantidades de respostas estão relacionadas a esse tipo de utilização. Ainda, as atividades sugeridas no campo ''outros'', estão relacionadas ao passeio com animais de estimação e a prática de atividades com patins e rollers. Percebemos, através de visitas nos espaços livres de Treze Tílias que a presença de pets de estimação é alta, durante os períodos diurno e noturno. Com isso, entendemos que, os novos espaços implantados precisam estar preparados para os conflitos que os mesmos podem gerar, principalmente na saúde pública.

Na questão 3, o questionamento aborda a visão do usuário relacionada a finalidade do parque urbano. 76,77% dos respondentes, observam o parque como um local de lazer, enquanto, 56,57% acreditam que os parques urbanos têm a finalidade de proporcionar a prática de atividades físicas, 40,40% como um local de descanso e 39,39% como um local de encontro com as outras pessoas.

 Gráfico 3 - Questão 3 - Para você, qual é a finalidade de um parque urbano? Fonte: SurveyMonkey (2019), adaptado pelas autoras (2019).Gráfico 3 - Questão 3 - Para você, qual é a finalidade de um parque urbano? Fonte: SurveyMonkey (2019), adaptado pelas autoras (2019).

 O gráfico abaixo, representativo da questão 4, aborda os benefícios que o parque traria para a população. É importante destacar que, a cultura e forma de apropriação do espaço é reflexo de cada local e da maneira de viver de seus habitantes. Como as pessoas usam e se apropriam de parques urbanos no Brasil é diferente de como os europeus utilizam os espaços públicos ou espaços ajardinados. Na Europa, os locais ajardinados são utilizados como local de encontro, de piqueniques, de leitura e pouco vemos este uso no Brasil que corresponde muito mais a estruturas esportivas, com diversidade de quadras e modalidades de esporte, pistas de caminhada e ciclismo, parques infantis, playgrounds.

 Gráfico 4 - Questão 4 - Quais os benefícios que o parque traria para a população? Fonte: SurveyMonkey (2019), adaptado pelas autoras (2019).Gráfico 4 - Questão 4 - Quais os benefícios que o parque traria para a população? Fonte: SurveyMonkey (2019), adaptado pelas autoras (2019).

76,77% responderam que aos parques são elementos ativos que proporcionam saúde física e mental aos usuários, seguido da prática do lazer que é o tempo disponível que as pessoas possuem com 69,70% e 60,61% afirmam que o parque traria o contato com a natureza, embora este contato seja diverso do Europeu (que utilizam os parques para piqueniques) ou Asiático (que utiliza como local de socialização mas de maneira menos próxima), por exemplo.

Na quinta e última questão, foi perguntado aos respondentes, qual o interesse deles em relação ao poder público municipal, para que investisse em um espaço como um parque urbano. Os resultados demonstram que 96,97%, afirmam que o governo municipal deveria investir neste tipo de espaço público, porém 3,03% acreditam que não seja interessante esta opção. Entendemos que, os locais livres ajardinados, predominantemente os parques e praças urbanos, deveriam ser mantidos com parcerias público x privadas, auxiliando as governanças locais na manutenção, preservação e qualidade destas estruturas.

 Gráfico 5 - Questão 5 - Para você é interessante que o governo municipal invista em um parque urbano? Fonte: SurveyMonkey (2019), adaptado pela autora (2019).Gráfico 5 - Questão 5 - Para você é interessante que o governo municipal invista em um parque urbano? Fonte: SurveyMonkey (2019), adaptado pela autora (2019).

Podemos perceber, através desta parte da pesquisa, que um parque no município é agraciado pela população e, se unirmos as características culturais à forma urbana deste espaço, podemos atrair turistas que vêm até a cidade em busca das características arquitetônicas e climáticas europeias. Ainda, entendemos que espaços públicos de qualidade são uma necessidade fundamental nas cidades do século atual.

Embora esta pesquisa tenha sido aplicada com os moradores e população local, entendemos que o ponto de vista do usuário diário torna-se muito importante para compreender uma cidade e planeja-la aos números que se somam ao turista. O caráter turístico do município, faz necessário um parque que retrate a miscigenação europeia existente e que proporcione uma leitura do espaço mais abrangente e mais cultural focada na história e características europeias do que, simplesmente em um desenho verde, como comumente vemos nos espaços livres públicos.

Considerações Finais

Após o término do presente estudo, entendemos que os parques urbanos exercem significativos benefícios e são essenciais nas ações sociais e ambientais urbanas e que esses benefícios são possíveis através de um planejamento adequado, considerando o usuário e seu modo cultural de viver. Estas áreas são capazes de minimizar o estresse, proporcionar entretenimento a diversas faixas etárias, estrutura para diversas modalidades de esportes ao ar livre e ainda, embelezamento e cor em meio ao cinza existente nas vias de circulação (ruas, calçadas, paginações) da arquitetura das cidades contemporâneas.

No desenvolvimento, foram elencados alguns aspectos referentes aos entretenimentos, como a prática de lazer e a cultura, a fim de compreender a atual situação da cidade de Treze Tílias em relação a implantação de um parque urbano, que atendesse as suas necessidades, uma vez que o município carece de espaços que proporcionem práticas recreativas, esportivas e de lazer à população e visitantes. Esta carência ficou evidente na resposta dos usuários, o que já era esperado pelas autoras em sua experiência técnica e vivência local.

Com base nos resultados obtidos, na sua grande maioria positivos, é possível afirmar que a implantação de um espaço baseado nos pré-requisitos citados, pode levar a população à uma melhoria na qualidade de vida e proporcionar aos seus visitantes e turistas novas formas de lazer e entretenimento. Entretanto, entendemos que a implantação deste parque deveria possuir estudos mais avançados sobre as relações entre o usuário brasileiro e o usuário europeu, com elementos e desenho que solidifiquem o conceito de parque cultural, evidenciando a diferença entre o parque cultural e os demais espaços ajardinados, parques e praças publicas do município.

Os resultados alcançados são decorrentes da combinação de pesquisas e da conferência teórica sobre os parques urbanos e suas aplicações. O estudo busca satisfazer a demanda do município, trazendo na proposta as potencialidades, costumes e tradições, despertando o interesse turístico daqueles que trocam a vida tumultuada dos grandes centros urbanos pela simplicidade da pequena Treze Tílias.

Referências

BARCELLO, Vicente. Os parques como espaços livres públicos de lazer: o caso de Brasília. 1999. Universidade de São Paulo, São Paulo, 1999.

CAMARA, I. P.; MOSCARELLI, F. Análise qualitativa da paisagem do Parque da Gare, Passo Fundo. Revista de Geografia e Ordenamento do Território. n.16. 2019.

CHIESURA, A. The role of urban parks for the sustainable city. Landscape and Urban Planning 68 (2004).

FRIEDRICH, D. O Parque Linear como instrumento de planejamento e gestão das áreas de fundo de vale urbanas. 2007. 273f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007.

GERHARDT, Tatiana Engel; SILVEIRA, Denise Tolfo. Métodos de pesquisa. 1º ed. Porto Alegre: Editora UFRGS 2009. Disponível em: < http://www.ufrgs.br/cursopgdr/downloadsSerie/derad005.pdf>.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍTICA. Treze Tílias: História. 2017. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/campos-do-jordao/historico>. Acesso em: 18 abr. 2019.

COELHO NETO, Teixeira. Dicionário Crítico de Política Cultural: Cultura e Imaginário. São Paulo: Iluminuras, 1999.

LOBODA, C. R.; DE ANGELIS, B. L. D. Áreas verdes públicas urbanas: conceitos, usos e funções. Ambiência – Revista do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais, Guarapuava, PR, v. 1, n. 1, p. 125-139, 2005. Disponível em:<https://revistas.unicentro.br/index.php/ambiencia/article/view/157/185>.Acesso em: 18 de abr. 2019.

MACEDO, S. Espaços Livres. Paisagem e Ambiente, n. 7, p. 15-56, 10 jun. 1995.

MACEDO, S. S.; SAKATA, F. G. Parques urbanos no Brasil. 2. ed. Coleção Quapá. São Paulo: Edusp, 2003.

MACEDO, Silvio Soares. Paisagismo na virada do século: 1990-2010. São Paulo: Edusp, 2011.

MAGNOLI, Miranda Martineli. O parque no desenho urbano. Revista Paisagem Ambiente: ensaios. N.21 – São Paulo – p.199-2014, 2006.

NARCISO, Carla Alexandra Filipe. Espaço público: acção política e práticas de apropriação. Conceito e procedências. 2009. Disponível em:

<http://www.revispsi.uerj.br/v9n2/artigos/html/v9n2a02.html>Acesso em: 01 de mai. 2019.

NASAR, J., 1990. The evaluative image of place. In: Walsh, B; CRAIK, K; PRICE, R. Personenvironment psychology: New directions and perspectives (pp. 117-168). Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum.

NASAR, J., 1994. Urban Design Aesthetics the evaluative qualities of building exteriors. Environment and Behavior, v.26.

PREFEITURA MUNICIPAL DE TREZE TILIAS. Secretaria de Turismo. Relação de visitantes domésticos e estrangeiros de Treze Tílias em 2017. Treze Tílias. 2017.

PIZZATO, G. Z., GUIMARÃES, L. B. M., Design and emotion into collective public use products? In: Proceedings of 9 th Design and Emotion conference. 2014.

RECHIA, S. Parques públicos de Curitiba: a relação cidade-natureza nas experiências de lazer. 2003. Tese (Doutorado em Educação Física) – Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, 2003.

RUSSEL, J. SNODGRASS, J. Emotion and the environment. Handbook of environmental psychology, v. 1, p. 245-280.1987.

SANTA CATARINA. Assembleia Legislativa Do Estado De Santa Catarina. Consultas. Municípios Catarinenses. Florianópolis, 2019. Disponível em: <http:// http://www.alesc.sc.gov.br/municipios/Treze%20T%C3%ADlias >. Acesso em: 21 abr. 2019.

Notas

 [1] São muitos os locais que podem ser enquadrados e classificados como espaços livres. Neste trabalho, focaremos nos espaços livres abertos e de caráter público, que podem ser parques, praças, largos e demais locais ajardinados em meio a malha densificada e urbanizada. Os principais autores que abordam a temática, conceituando os espaços livres como SELs (Sistemas de Espaços Livres) são do grupo Quapá-SEL, com destaque para Macedo e Sakata – os quais podem ser vistos na bibliografia citada.

[2] Andreas Thaler: Foi ministro da agricultura da Áustria por duas vezes, de 1926 a 1929 e 1930 à 1931.  Fundador da colônia austríaca em Santa Catarina,Treze Tílias.

[3] Wildschönau: É um município da Áustria, situado no distrito de Kufstein, estado do Tirol.

[4]  Estilo Alpino Tirolês: Traços da arquitetura da Austríaca da região montanhosa no estado do Tyrol, beirais largos, sacadas, floreiras com predominância de madeira, e presença do campanário.

[5] Estilo Alpino Tirolês: Traços da arquitetura da Austríaca da região montanhosa no estado do Tyrol, beirais largos, sacadas, floreiras com predominância de madeira, e presença do campanário.

 

Minicurículos

 

Inara Pagnussat Camara

Arquiteta e Urbanista graduada pela Universidade de Passo Fundo - UPF (I/2013).

Especialista em Arquitetura Comercial (IMED, 2016)

Mestre em Arquitetura e Urbanismo (IMED, 2018).

Cursando PhD em Urbanismo, pela Faculdade de Arquitetura de Lisboa, Portugal (2019-2022).

Professora de Graduação e Pós Graduação - Universidade do Oeste de Santa Catarina /UNOESC. 

Link Currículo Lates: http://lattes.cnpq.br/5106405960321512

E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

 

Kelly Ferting
Arquiteta e Urbanista - Universidade do Oeste de Santa Catarina 
E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

 

 Como citar: 

 CAMARA, Inara Pagnussat; FERTING, Kelly. Proposta de um parque cultural urbano para o município me Treze Tílias, Sc. 5% Arquitetura + Arte, São Paulo, ano 15, v. 01, n.19, e136, p. 1-19, jul /dez. /2020. Disponível em:

 http://revista5.arquitetonica.com/index.php/uncategorised/proposta-de-um-parque-cultural-urbano-para-o-municipio-de-treze-tilias

 

Submetido em: 2020-04-15

Aprovado em: 2020-10-13

 

 

 

 

 

 

Acessos: 1551