Estudos para desenvolvimento de projeto de cinema público com parque em Videira, Santa Catarina

Categoria: Projetos Teóricos Imprimir Email

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LEANDRO MARQUES FRAGA

JULIANA APARECIDA BIASI

TULAINY PARISOTTO

JEFERSON EDUARDO SUCKOW

Resumo

O objetivo do presente trabalho é realizar pesquisas e estudos que possam embasar o desenvolvimento de um anteprojeto de cinema público inserido em parque em Videira, Santa Catarina. Este projeto visa atender a população carente que corresponde a 22% da população do município, proporcionando a este público o acesso à cultura e lazer gratuitos.

Esta pesquisa é de caráter exploratório e natureza qualitativa. Durante o desenvolvimento ficou evidente a necessidade e importância de uma obra desta categoria na cidade.Foi definido um programa de necessidades, após uma análise de usuário, que atenda o perfeito funcionamento da edificação e necessidades do público e fluxograma visando a eficiência e funcionalidade, além de uma análise e escolha de um terreno adequado para a proposta. Também foi adotado um conceito e partido arquitetônico com o intuito de dar significado ao anteprojeto e auxiliar na sua resolução. A realização do anteprojeto se justifica por diversos fatores apresentados no trabalho. 

Palavras-chave: Arquitetura; Inclusão; Cinema e educação

Abstract

The objective of this work is to carry out researches and studies that support the development of a public cinema project in a park in Videira, Santa Catarina. This project aims to meet the underprivileged population that corresponds to 22% of the population of the municipality, providing this public with access to free culture and leisure. This research is exploratory and qualitative in nature. During the development the need and importance of this kind of project in the city was evident. A needs program has been defined, before a user review, that addresses the perfect functioning of the building and public needs and flow chart for efficiency and functionality, as well as an analysis and choice of suitable terrain for the proposal. It was also adopted a concept and architectural party with the intention of giving meaning to the draft and helping in its resolution. The realization of the draft is justified by several factors presented in the paper.

Key words: Architecture; Inclusion; Cinema and education

Resumen 

El objetivo del presente trabajo es realizar investigaciones y estudios que fundamenten el desarrollo de un anteproyecto de cine público insertado en parque en Videira, Santa Catarina. Este proyecto pretende atender a la población necesitada que corresponde al 22% de la población del municipio, proporcionando a este público el acceso a la cultura y ocio gratuitos. Esta investigación es de naturaleza exploratoria y cualitativa. Durante el desarrollo quedó evidente la necesidad y importancia de una obra de esta categoría en la ciudad. Se definió un programa de necesidades, después de una análisis de usuarios, que atiende el perfecto funcionamiento de la edificación y necesidades del público y el diagrama de flujo para la eficiencia y funcionalidad, además de un análisis y elección de un terreno adecuado para la propuesta. También se adoptó un concepto y partido arquitectónico con el propósito de dar significado al anteproyecto y ayudar en su resolución. La realización del anteproyecto se justifica por diversos factores presentados en el trabajo.

Palabras clave: Arquitectura; Inclusión; Cine y educación.

 1 Introdução

     O presente trabalho busca a pesquisa e desenvolvimento de um projeto arquitetônico para a implantação de um cinema público com parque no município de Videira (SC), para que proporcione a inclusão cultural e educacional da população de modo geral da cidade e da região do Meio Oeste deste estado.

     Diversas escolas utilizam o ‘cinema em sala’ como forma de aprimorar a metodologia de ensino. O grande problema é que o espaço oferecido geralmente não apresenta estrutura adequada, com quesitos térmicos e acústicos dentro das faixas de conforto (KLAMMER, 2006).  Seria uma forma de atrair novamente os jovens aos estudos, isto porque, de acordo com o IBGE (2010), o número de ingressos ao ensino fundamental vem caindo desde o ano de 2005 na cidade de Videira.

     De acordo com a ANCINE (2019), no ano de 1975 havia cerca de 3.000 salas em todo o Brasil; com a celeridade da urbanização e a falta de recursos, entre outros fatores, no ano de 1997 o número de salas no país chegava a aproximadamente 1.000, ou seja, uma redução de 2/3 em menos de 22 anos. Com a ascensão dos shopping centers, este número se tornou maior e na atualidade contam 2.200 salas, porém esta quantidade ainda é insuficiente. O Brasil é o 60º país em relação de habitantes por sala. Por isto, há programas como ‘Cinema da cidade’ e ‘Lei Rouanet’, fomentados pela ANCINE e pelo Ministério da Cultura respectivamente, que estimulam a criação destes espaços para que todos possuam acesso (ANCINE, 2019; BRASIL, 2019).

     Sabendo que para muitos o valor de um ingresso de cinema é de valor elevado e que a maior parte da população carente que sai do ensino médio não ingressa na universidade, muitas vezes por questões financeiras, somado ao fato de que este público não possui conhecimento do seu direito a meia entrada, muitos não frequentam este tipo de edificação. Desta maneira pergunta-se: Como projetar um cinema inserido em parque que atenda de forma igualitária toda a população da cidade e região?

     Considerando os fatos expostos, a implantação de um cinema com parque justifica-se pois ambos espaços promoverão um maior convívio social, através da disponibilização de diversos meios de lazer; uma maior movimentação econômica, proporcionada pelo turismo que uma obra arquitetônica diferenciada e um cinema de atendimento regional e público agrega; uma melhora na qualidade de vida, por conta acesso à educação e cultura por meio do cinema ou de atividades complementares que podem ser realizadas no parque, que também promove o bem-estar físico e a saúde; isto porque de acordo com Barton e Pretty (2010), cinco minutos de caminhada em um parque já auxiliam na saúde mental, humor e autoestima.

 2 Metodologia

     As pesquisas são classificadas nas seguintes categorias: classificação com relação ao objetivo da mesma, natureza e escolha do objeto de estudo. A classificação do presente estudo quanto aos objetivos é exploratória, porque visa a familiarização com o conteúdo e ampliação do conhecimento. Com mais domínio sobre o assunto é possível definir mais claramente os problemas e estruturar melhor novas pesquisas. A classificação da pesquisa quanto a natureza é qualitativa, pois busca o significado dos seus dados, a essência e sua origem. Os dados, por sua vez, são predominantemente descritivos, o material é rico em descrições de acontecimentos, pessoas, documentos e outros objetos de estudo. Por fim a classificação quanto à escolha do objeto de estudo que é estudo de casos múltiplos, onde o pesquisador tem que estudar duas ou mais obras no caso da arquitetura (SELLTIZ, 1965; GIL, 1999).

3 Desenvolvimento

3.1 Influência do cinema na educação

     O cinema e a televisão se consolidaram em meio a diversos acontecimentos históricos, lutas sociais, culturais e políticas. Os filmes são capazes de transmitir uma história e um contexto histórico no qual foi produzido. Dispõem de seu valor de produção que se deu dentro de determinado contexto e acontecimentos de uma época (NAPOLITANO, 2009). Temos como exemplo o filme ‘Tempos Modernos’, dirigido e estrelado por Charlie Chaplin, que apresenta seu valor de produção em determinado contexto e de crítica à Revolução Industrial.

    O cinema deve também ser entendido como uma linguagem artística e que deve ser desenvolvida. Todo filme é o resultado de uma série de fatores como: escolhas, recortes, perspectivas, interesses estéticos e ideológicos; estes fatores podem variar de acordo com a opções de quem o idealizou. Um filme é uma arte que é diferente de um livro, quadro, música ou teatro, sua capacidade de narrativa aliada a produção de imagem facilita o entendimento de tudo que é exposto (NAPOLITANO, 2009). De acordo com Napolitano (2009, p. 11) “[...] quando entramos numa sala de cinema estabelecemos uma espécie de pacto de realidade com os filmes a que assistimos”.

     A evolução de outras tecnologias como a fita cassete, DVDs e a internet, fez com que diversos filmes não ficassem esquecidos ou perdidos no tempo; ainda é possível ter acesso a filmes produzidos em 1910, 1920 e 1930 por exemplo. Nestas atividades, além do reforço aos conteúdos de história, também é possível abordar temas transversais como: cidadania, sexualidade, meio ambiente e diversidade cultural. Outra forma de debate na educação é a forma como o filme trata determinado o assunto, o professor pode e deve problematizar o seu desenvolvimento para gerar debates construtivos (NAPOLITANO, 2009). De acordo com Fantin (2007, p. 7):

 

        Ampliar o repertório cinematográfico de crianças significa assegurar acesso a uma diversidade de temas,  

abordados das mais diferentes formas. Trazer filmes de diferentes países e culturas para a escola e mostrar outros modos de ver

significa permitir que as crianças usufruam do patrimônio cultural da humanidade a que de outra forma dificilmente

teriam acesso, devido aos condicionantes históricos e sociais do nosso contexto.

 

     Com o avanço das tecnologias, também é possível a produção dos próprios alunos, visto que hoje o acesso ao computador e internet está facilitado. Por exemplo, atualmente maioria dos celulares são capazes de gravar imagens aliadas ao som para realizar as atividades. Esta abordagem de ensino também se torna uma experiência enriquecedora, já que desenvolve novas habilidades e olhar crítico sobre o que será produzido (NAPOLITANO, 2009).

 3.2 Influência do parque para a população

     De acordo com a CMMD – Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento (1988), no ano de 2030 aproximadamente 60% da população irá viver nos centros urbanos. Com isto, surge o aumento da preocupação com a deficiência de áreas verdes, e os parques urbanos se fazem cada vez mais necessários. Eles geram espaços arborizados que se tornam o “pulmão” das cidades, além de gerar melhorias significativas na saúde pública com o incentivo às atividades físicas (SZEREMETA, 2013). No ensino, estes parques podem ser utilizados para a educação ambiental, além de amenizar efeitos do estresse. Apresentam a função ecológica, de estética e de lazer (KAPLAN, 1995).

     A vegetação é responsável por criar um ambiente propício e agradável para a realização das atividades (MILANO, 1984). As pessoas se sentem mais satisfeitas e motivadas ao realizar suas atividades em locais com presença arbórea e/ou aquática. O que também incentiva a frequente visitação destes locais quando aliados à facilidade de acesso dos mesmos (CORTI et al., 1997; BARTON; PRETTY, 2010). De acordo com pesquisadores sobre o assunto, é função dos arquitetos e urbanistas criar desenhos verdes que possam atender às crianças e criar a oportunidade de aprender no ambiente externo (BARTON; PRETTY, 2010).

     Com base em estudos realizados por Reis (2001) no sul do país, foi constatado que, a proximidade entre parques e residências é o principal fator que estimula a visitação e prática de atividades físicas. Entre os outros fatores que estimulam a visitação estão: beleza geográfica ou natural, estrutura adequada para a prática de atividades, estacionamento, comportamento do público frequente e bom fluxo de trânsito ao redor. Dentre os fatores que inibem a visitação estão: incidência de chuvas e poluição, além da falta de manutenção e insegurança (REIS, 2001). Uma das propostas da OMS (Organização Mundial de Saúde) e das Nações Unidas para o meio ambiente é determinar uma área verde mínima por habitante. Atualmente a OMS recomenda 9 m² por pessoa. Também é recomendado um desenho verde para que os habitantes não vivam a uma distância de mais de 15 minutos a pé de um espaço verde público (PNUMA, 2003).

 3.3 Análise de dados da cidade de Videira (SC)

     Conforme dados do IBGE (2018) Videira conta atualmente com uma população estimada de 52.510 habitantes, sendo a segunda mais populosa dentre as 27 cidades que compõem a microrregião onde está inserida, indicando um local propício e adequado para incluir o maior número de pessoas possível. Ainda de acordo com o IBGE (2018), a parcela da população de Videira com idade entre 15 e 24 anos (idade média dos estudantes de ensino médio e superior) é de cerca de 18,4%. Vale ressaltar que este anteprojeto visa atender a população carente, com o objetivo de lhes oferecer acesso à cultura e lazer. Isto porque de acordo com o IBGE (2010), 22% da população videirense possui um rendimento de até meio salário mínimo.

     De acordo com uma consulta realizada ao Grupo Cine de Videira (2019), o atual cinema que está inserido no Shopping da cidade comporta 304 pessoas. Uma sala de exibição apresenta 170 lugares e mais 2 para cadeirantes, a outra 130 lugares e mais 2 para cadeirantes. Foi avaliado que para o porte da cidade estas salas são insuficientes em filmes mais aclamados e para receber mais lançamentos.

 3.3.1 Análise de usuários

     Um cinema público inserido em um parque traz benefícios que vão desde lazer e convívio social, juntamente com uma melhora na qualidade de vida. Estes fatores despertam o interesse do setor público, cidadãos e empresários locais. Assim, com o apoio do setor público e privado é possível obter sucesso do desenvolvimento urbano e da obra.

     Há uma classificação quanto aos usuários que são os regulares e os irregulares. O usuários regulares são os que utilizam o espaço com mais frequência, ou seja, um determinado horário de uso da edificação. Nesta classificação estão incluídas as pessoas que trabalham no local, desde a parte administrativa até a limpeza e manutenção. Também estão inclusos os colaboradores terceirizados, que trabalham em carga e descarga.

     Os usuários irregulares são aqueles que não possuem uma permanência prolongada na edificação. São estes que trazem sucesso e promovem o espaço. Nesta classificação estão incluídos os turistas e a própria população da cidade. Vale ressaltar que o objetivo deste anteprojeto é atender a população carente, oferecendo acesso à cultura e lazer. Isto porque de acordo com o IBGE (2010), 22% da população videirense apresenta um rendimento de até ½ salário mínimo. Também é objetivo auxiliar na educação, portanto outro público alvo são os estudantes de ensino fundamental e médio. O auxílio na educação se faz necessário porque o número de alunos do ensino fundamental vem decaindo com os anos, o que também apresenta relação com a taxa de natalidade.

     O gênero dos visitantes varia muito de acordo com as exibições no momento, visto que de forma generalizada, os homens preferem mais filmes de ação e as mulheres dramas e romances, por exemplo. De acordo com estudos realizados na área, os jovens preferem atividades ao ar livre, bares, atividades em grupo e que possam ter mais liberdade fora de casa. Este é um ponto positivo da inserção do cinema em um parque porque amplia as opções de atividades e público alvo. Os jovens associam muito o cinema ao namoro e encontros, que, de acordo com os pais, é um entretenimento permitido e seguro (EARP; SROULEVICH, 2012).

     As pessoas mais velhas, de forma geral, visitam o cinema mais com os amigos e família. Estas pessoas em sua maioria já constituem uma família, trabalho e outras obrigações da vida adulta. O deslocamento acaba se tornando penoso, cansativo e o tempo de duração das exibições faz com que voltem tarde para realizar suas atividades domésticas. O aparecimento de opções de assistir filmes em casa com boa qualidade reduziu muito a frequência de diversos públicos no cinema. Isto porque, muitos consideram um custo muito elevado e ser mais cômodo assistir em casa (EARP; SROULEVICH, 2012).

 3.4 Estudo de caso

     Com o fim de obter maior conhecimento acerca desta tipologia de construção, foi realizado um estudo de caso a nível internacional, visto que no Brasil ainda não há edificação deste porte. Neste estudo foi analisada a Cineteca Nacional S. XXI (Figura 1), de autoria de Rojkind Arquitectos, na Cidade do México, onde foi realizada a visita in loco para o estudo e convivência com o espaço.

1 Introdução

     O presente trabalho busca a pesquisa e desenvolvimento de um projeto arquitetônico para a implantação de um cinema público com parque no município de Videira (SC), para que proporcione a inclusão cultural e educacional da população de modo geral da cidade e da região do Meio Oeste deste estado.

     Diversas escolas utilizam o ‘cinema em sala’ como forma de aprimorar a metodologia de ensino. O grande problema é que o espaço oferecido geralmente não apresenta estrutura adequada, com quesitos térmicos e acústicos dentro das faixas de conforto (KLAMMER, 2006).  Seria uma forma de atrair novamente os jovens aos estudos, isto porque, de acordo com o IBGE (2010), o número de ingressos ao ensino fundamental vem caindo desde o ano de 2005 na cidade de Videira.

     De acordo com a ANCINE (2019), no ano de 1975 havia cerca de 3.000 salas em todo o Brasil; com a celeridade da urbanização e a falta de recursos, entre outros fatores, no ano de 1997 o número de salas no país chegava a aproximadamente 1.000, ou seja, uma redução de 2/3 em menos de 22 anos. Com a ascensão dos shopping centers, este número se tornou maior e na atualidade contam 2.200 salas, porém esta quantidade ainda é insuficiente. O Brasil é o 60º país em relação de habitantes por sala. Por isto, há programas como ‘Cinema da cidade’ e ‘Lei Rouanet’, fomentados pela ANCINE e pelo Ministério da Cultura respectivamente, que estimulam a criação destes espaços para que todos possuam acesso (ANCINE, 2019; BRASIL, 2019).

     Sabendo que para muitos o valor de um ingresso de cinema é de valor elevado e que a maior parte da população carente que sai do ensino médio não ingressa na universidade, muitas vezes por questões financeiras, somado ao fato de que este público não possui conhecimento do seu direito a meia entrada, muitos não frequentam este tipo de edificação. Desta maneira pergunta-se: Como projetar um cinema inserido em parque que atenda de forma igualitária toda a população da cidade e região?

     Considerando os fatos expostos, a implantação de um cinema com parque justifica-se pois ambos espaços promoverão um maior convívio social, através da disponibilização de diversos meios de lazer; uma maior movimentação econômica, proporcionada pelo turismo que uma obra arquitetônica diferenciada e um cinema de atendimento regional e público agrega; uma melhora na qualidade de vida, por conta acesso à educação e cultura por meio do cinema ou de atividades complementares que podem ser realizadas no parque, que também promove o bem-estar físico e a saúde; isto porque de acordo com Barton e Pretty (2010), cinco minutos de caminhada em um parque já auxiliam na saúde mental, humor e autoestima.

 2 Metodologia

     As pesquisas são classificadas nas seguintes categorias: classificação com relação ao objetivo da mesma, natureza e escolha do objeto de estudo. A classificação do presente estudo quanto aos objetivos é exploratória, porque visa a familiarização com o conteúdo e ampliação do conhecimento. Com mais domínio sobre o assunto é possível definir mais claramente os problemas e estruturar melhor novas pesquisas. A classificação da pesquisa quanto a natureza é qualitativa, pois busca o significado dos seus dados, a essência e sua origem. Os dados, por sua vez, são predominantemente descritivos, o material é rico em descrições de acontecimentos, pessoas, documentos e outros objetos de estudo. Por fim a classificação quanto à escolha do objeto de estudo que é estudo de casos múltiplos, onde o pesquisador tem que estudar duas ou mais obras no caso da arquitetura (SELLTIZ, 1965; GIL, 1999).

 3 Desenvolvimento

3.1 Influência do cinema na educação

     O cinema e a televisão se consolidaram em meio a diversos acontecimentos históricos, lutas sociais, culturais e políticas. Os filmes são capazes de transmitir uma história e um contexto histórico no qual foi produzido. Dispõem de seu valor de produção que se deu dentro de determinado contexto e acontecimentos de uma época (NAPOLITANO, 2009). Temos como exemplo o filme ‘Tempos Modernos’, dirigido e estrelado por Charlie Chaplin, que apresenta seu valor de produção em determinado contexto e de crítica à Revolução Industrial.

     O cinema deve também ser entendido como uma linguagem artística e que deve ser desenvolvida. Todo filme é o resultado de uma série de fatores como: escolhas, recortes, perspectivas, interesses estéticos e ideológicos; estes fatores podem variar de acordo com a opções de quem o idealizou. Um filme é uma arte que é diferente de um livro, quadro, música ou teatro, sua capacidade de narrativa aliada a produção de imagem facilita o entendimento de tudo que é exposto (NAPOLITANO, 2009). De acordo com Napolitano (2009, p. 11) “[...] quando entramos numa sala de cinema estabelecemos uma espécie de pacto de realidade com os filmes a que assistimos”.

     A evolução de outras tecnologias como a fita cassete, DVDs e a internet, fez com que diversos filmes não ficassem esquecidos ou perdidos no tempo; ainda é possível ter acesso a filmes produzidos em 1910, 1920 e 1930 por exemplo. Nestas atividades, além do reforço aos conteúdos de história, também é possível abordar temas transversais como: cidadania, sexualidade, meio ambiente e diversidade cultural. Outra forma de debate na educação é a forma como o filme trata determinado o assunto, o professor pode e deve problematizar o seu desenvolvimento para gerar debates construtivos (NAPOLITANO, 2009). De acordo com Fantin (2007, p. 7):

 

        Ampliar o repertório cinematográfico de crianças significa assegurar acesso a uma diversidade de temas, abordados das mais diferentes formas. Trazer filmes de diferentes países e culturas para a escola e mostrar outros modos de ver significa permitir que as crianças usufruam do patrimônio cultural da humanidade a que de outra forma dificilmente teriam acesso, devido aos condicionantes históricos e sociais do nosso contexto.

     Com o avanço das tecnologias, também é possível a produção dos próprios alunos, visto que hoje o acesso ao computador e internet está facilitado. Por exemplo, atualmente maioria dos celulares são capazes de gravar imagens aliadas ao som para realizar as atividades. Esta abordagem de ensino também se torna uma experiência enriquecedora, já que desenvolve novas habilidades e olhar crítico sobre o que será produzido (NAPOLITANO, 2009).

 

3.2 Influência do parque para a população

     De acordo com a CMMD – Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento (1988), no ano de 2030 aproximadamente 60% da população irá viver nos centros urbanos. Com isto, surge o aumento da preocupação com a deficiência de áreas verdes, e os parques urbanos se fazem cada vez mais necessários. Eles geram espaços arborizados que se tornam o “pulmão” das cidades, além de gerar melhorias significativas na saúde pública com o incentivo às atividades físicas (SZEREMETA, 2013). No ensino, estes parques podem ser utilizados para a educação ambiental, além de amenizar efeitos do estresse. Apresentam a função ecológica, de estética e de lazer (KAPLAN, 1995).

     A vegetação é responsável por criar um ambiente propício e agradável para a realização das atividades (MILANO, 1984). As pessoas se sentem mais satisfeitas e motivadas ao realizar suas atividades em locais com presença arbórea e/ou aquática. O que também incentiva a frequente visitação destes locais quando aliados à facilidade de acesso dos mesmos (CORTI et al., 1997; BARTON; PRETTY, 2010). De acordo com pesquisadores sobre o assunto, é função dos arquitetos e urbanistas criar desenhos verdes que possam atender às crianças e criar a oportunidade de aprender no ambiente externo (BARTON; PRETTY, 2010).

     Com base em estudos realizados por Reis (2001) no sul do país, foi constatado que, a proximidade entre parques e residências é o principal fator que estimula a visitação e prática de atividades físicas. Entre os outros fatores que estimulam a visitação estão: beleza geográfica ou natural, estrutura adequada para a prática de atividades, estacionamento, comportamento do público frequente e bom fluxo de trânsito ao redor. Dentre os fatores que inibem a visitação estão: incidência de chuvas e poluição, além da falta de manutenção e insegurança (REIS, 2001). Uma das propostas da OMS (Organização Mundial de Saúde) e das Nações Unidas para o meio ambiente é determinar uma área verde mínima por habitante. Atualmente a OMS recomenda 9 m² por pessoa. Também é recomendado um desenho verde para que os habitantes não vivam a uma distância de mais de 15 minutos a pé de um espaço verde público (PNUMA, 2003).

 3.3 Análise de dados da cidade de Videira (SC)

     Conforme dados do IBGE (2018) Videira conta atualmente com uma população estimada de 52.510 habitantes, sendo a segunda mais populosa dentre as 27 cidades que compõem a microrregião onde está inserida, indicando um local propício e adequado para incluir o maior número de pessoas possível. Ainda de acordo com o IBGE (2018), a parcela da população de Videira com idade entre 15 e 24 anos (idade média dos estudantes de ensino médio e superior) é de cerca de 18,4%. Vale ressaltar que este anteprojeto visa atender a população carente, com o objetivo de lhes oferecer acesso à cultura e lazer. Isto porque de acordo com o IBGE (2010), 22% da população videirense possui um rendimento de até meio salário mínimo.

     De acordo com uma consulta realizada ao Grupo Cine de Videira (2019), o atual cinema que está inserido no Shopping da cidade comporta 304 pessoas. Uma sala de exibição apresenta 170 lugares e mais 2 para cadeirantes, a outra 130 lugares e mais 2 para cadeirantes. Foi avaliado que para o porte da cidade estas salas são insuficientes em filmes mais aclamados e para receber mais lançamentos.

3.3.1 Análise de usuários

     Um cinema público inserido em um parque traz benefícios que vão desde lazer e convívio social, juntamente com uma melhora na qualidade de vida. Estes fatores despertam o interesse do setor público, cidadãos e empresários locais. Assim, com o apoio do setor público e privado é possível obter sucesso do desenvolvimento urbano e da obra.

     Há uma classificação quanto aos usuários que são os regulares e os irregulares. O usuários regulares são os que utilizam o espaço com mais frequência, ou seja, um determinado horário de uso da edificação. Nesta classificação estão incluídas as pessoas que trabalham no local, desde a parte administrativa até a limpeza e manutenção. Também estão inclusos os colaboradores terceirizados, que trabalham em carga e descarga.

      Os usuários irregulares são aqueles que não possuem uma permanência prolongada na edificação. São estes que trazem sucesso e promovem o espaço. Nesta classificação estão incluídos os turistas e a própria população da cidade. Vale ressaltar que o objetivo deste anteprojeto é atender a população carente, oferecendo acesso à cultura e lazer. Isto porque de acordo com o IBGE (2010), 22% da população videirense apresenta um rendimento de até ½ salário mínimo. Também é objetivo auxiliar na educação, portanto outro público alvo são os estudantes de ensino fundamental e médio. O auxílio na educação se faz necessário porque o número de alunos do ensino fundamental vem decaindo com os anos, o que também apresenta relação com a taxa de natalidade.

     O gênero dos visitantes varia muito de acordo com as exibições no momento, visto que de forma generalizada, os homens preferem mais filmes de ação e as mulheres dramas e romances, por exemplo. De acordo com estudos realizados na área, os jovens preferem atividades ao ar livre, bares, atividades em grupo e que possam ter mais liberdade fora de casa. Este é um ponto positivo da inserção do cinema em um parque porque amplia as opções de atividades e público alvo. Os jovens associam muito o cinema ao namoro e encontros, que, de acordo com os pais, é um entretenimento permitido e seguro (EARP; SROULEVICH, 2012).

     As pessoas mais velhas, de forma geral, visitam o cinema mais com os amigos e família. Estas pessoas em sua maioria já constituem uma família, trabalho e outras obrigações da vida adulta. O deslocamento acaba se tornando penoso, cansativo e o tempo de duração das exibições faz com que voltem tarde para realizar suas atividades domésticas. O aparecimento de opções de assistir filmes em casa com boa qualidade reduziu muito a frequência de diversos públicos no cinema. Isto porque, muitos consideram um custo muito elevado e ser mais cômodo assistir em casa (EARP; SROULEVICH, 2012).

 3.4 Estudo de caso

Com o fim de obter maior conhecimento acerca desta tipologia de construção, foi realizado um estudo de caso a nível internacional, visto que no Brasil ainda não há edificação deste porte. Neste estudo foi analisada a Cineteca Nacional S. XXI (Figura 1), de autoria de Rojkind Arquitectos, na Cidade do México, onde foi realizada a visita in loco para o estudo e convivência com o espaço.

1 Introdução

     O presente trabalho busca a pesquisa e desenvolvimento de um projeto arquitetônico para a implantação de um cinema público com parque no município de Videira (SC), para que proporcione a inclusão cultural e educacional da população de modo geral da cidade e da região do Meio Oeste deste estado.

     Diversas escolas utilizam o ‘cinema em sala’ como forma de aprimorar a metodologia de ensino. O grande problema é que o espaço oferecido geralmente não apresenta estrutura adequada, com quesitos térmicos e acústicos dentro das faixas de conforto (KLAMMER, 2006).  Seria uma forma de atrair novamente os jovens aos estudos, isto porque, de acordo com o IBGE (2010), o número de ingressos ao ensino fundamental vem caindo desde o ano de 2005 na cidade de Videira.

     De acordo com a ANCINE (2019), no ano de 1975 havia cerca de 3.000 salas em todo o Brasil; com a celeridade da urbanização e a falta de recursos, entre outros fatores, no ano de 1997 o número de salas no país chegava a aproximadamente 1.000, ou seja, uma redução de 2/3 em menos de 22 anos. Com a ascensão dos shopping centers, este número se tornou maior e na atualidade contam 2.200 salas, porém esta quantidade ainda é insuficiente. O Brasil é o 60º país em relação de habitantes por sala. Por isto, há programas como ‘Cinema da cidade’ e ‘Lei Rouanet’, fomentados pela ANCINE e pelo Ministério da Cultura respectivamente, que estimulam a criação destes espaços para que todos possuam acesso (ANCINE, 2019; BRASIL, 2019).

     Sabendo que para muitos o valor de um ingresso de cinema é de valor elevado e que a maior parte da população carente que sai do ensino médio não ingressa na universidade, muitas vezes por questões financeiras, somado ao fato de que este público não possui conhecimento do seu direito a meia entrada, muitos não frequentam este tipo de edificação. Desta maneira pergunta-se: Como projetar um cinema inserido em parque que atenda de forma igualitária toda a população da cidade e região?

     Considerando os fatos expostos, a implantação de um cinema com parque justifica-se pois ambos espaços promoverão um maior convívio social, através da disponibilização de diversos meios de lazer; uma maior movimentação econômica, proporcionada pelo turismo que uma obra arquitetônica diferenciada e um cinema de atendimento regional e público agrega; uma melhora na qualidade de vida, por conta acesso à educação e cultura por meio do cinema ou de atividades complementares que podem ser realizadas no parque, que também promove o bem-estar físico e a saúde; isto porque de acordo com Barton e Pretty (2010), cinco minutos de caminhada em um parque já auxiliam na saúde mental, humor e autoestima.

 2 Metodologia

     As pesquisas são classificadas nas seguintes categorias: classificação com relação ao objetivo da mesma, natureza e escolha do objeto de estudo. A classificação do presente estudo quanto aos objetivos é exploratória, porque visa a familiarização com o conteúdo e ampliação do conhecimento. Com mais domínio sobre o assunto é possível definir mais claramente os problemas e estruturar melhor novas pesquisas. A classificação da pesquisa quanto a natureza é qualitativa, pois busca o significado dos seus dados, a essência e sua origem. Os dados, por sua vez, são predominantemente descritivos, o material é rico em descrições de acontecimentos, pessoas, documentos e outros objetos de estudo. Por fim a classificação quanto à escolha do objeto de estudo que é estudo de casos múltiplos, onde o pesquisador tem que estudar duas ou mais obras no caso da arquitetura (SELLTIZ, 1965; GIL, 1999).

 3 Desenvolvimento

3.1 Influência do cinema na educação

     O cinema e a televisão se consolidaram em meio a diversos acontecimentos históricos, lutas sociais, culturais e políticas. Os filmes são capazes de transmitir uma história e um contexto histórico no qual foi produzido. Dispõem de seu valor de produção que se deu dentro de determinado contexto e acontecimentos de uma época (NAPOLITANO, 2009). Temos como exemplo o filme ‘Tempos Modernos’, dirigido e estrelado por Charlie Chaplin, que apresenta seu valor de produção em determinado contexto e de crítica à Revolução Industrial.

     O cinema deve também ser entendido como uma linguagem artística e que deve ser desenvolvida. Todo filme é o resultado de uma série de fatores como: escolhas, recortes, perspectivas, interesses estéticos e ideológicos; estes fatores podem variar de acordo com a opções de quem o idealizou. Um filme é uma arte que é diferente de um livro, quadro, música ou teatro, sua capacidade de narrativa aliada a produção de imagem facilita o entendimento de tudo que é exposto (NAPOLITANO, 2009). De acordo com Napolitano (2009, p. 11) “[...] quando entramos numa sala de cinema estabelecemos uma espécie de pacto de realidade com os filmes a que assistimos”.

     A evolução de outras tecnologias como a fita cassete, DVDs e a internet, fez com que diversos filmes não ficassem esquecidos ou perdidos no tempo; ainda é possível ter acesso a filmes produzidos em 1910, 1920 e 1930 por exemplo. Nestas atividades, além do reforço aos conteúdos de história, também é possível abordar temas transversais como: cidadania, sexualidade, meio ambiente e diversidade cultural. Outra forma de debate na educação é a forma como o filme trata determinado o assunto, o professor pode e deve problematizar o seu desenvolvimento para gerar debates construtivos (NAPOLITANO, 2009). De acordo com Fantin (2007, p. 7):

      Ampliar o repertório cinematográfico de crianças significa assegurar acesso a uma diversidade de temas, abordados das mais diferentes formas. Trazer filmes de diferentes países e culturas para a escola e mostrar outros modos de ver significa permitir que as crianças usufruam do patrimônio cultural da humanidade a que de outra forma dificilmente teriam acesso, devido aos condicionantes históricos e sociais do nosso contexto.

      Com o avanço das tecnologias, também é possível a produção dos próprios alunos, visto que hoje o acesso ao computador e internet está facilitado. Por exemplo, atualmente maioria dos celulares são capazes de gravar imagens aliadas ao som para realizar as atividades. Esta abordagem de ensino também se torna uma experiência enriquecedora, já que desenvolve novas habilidades e olhar crítico sobre o que será produzido (NAPOLITANO, 2009).

 

3.2 Influência do parque para a população

     De acordo com a CMMD – Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento (1988), no ano de 2030 aproximadamente 60% da população irá viver nos centros urbanos. Com isto, surge o aumento da preocupação com a deficiência de áreas verdes, e os parques urbanos se fazem cada vez mais necessários. Eles geram espaços arborizados que se tornam o “pulmão” das cidades, além de gerar melhorias significativas na saúde pública com o incentivo às atividades físicas (SZEREMETA, 2013). No ensino, estes parques podem ser utilizados para a educação ambiental, além de amenizar efeitos do estresse. Apresentam a função ecológica, de estética e de lazer (KAPLAN, 1995).

     A vegetação é responsável por criar um ambiente propício e agradável para a realização das atividades (MILANO, 1984). As pessoas se sentem mais satisfeitas e motivadas ao realizar suas atividades em locais com presença arbórea e/ou aquática. O que também incentiva a frequente visitação destes locais quando aliados à facilidade de acesso dos mesmos (CORTI et al., 1997; BARTON; PRETTY, 2010). De acordo com pesquisadores sobre o assunto, é função dos arquitetos e urbanistas criar desenhos verdes que possam atender às crianças e criar a oportunidade de aprender no ambiente externo (BARTON; PRETTY, 2010).

     Com base em estudos realizados por Reis (2001) no sul do país, foi constatado que, a proximidade entre parques e residências é o principal fator que estimula a visitação e prática de atividades físicas. Entre os outros fatores que estimulam a visitação estão: beleza geográfica ou natural, estrutura adequada para a prática de atividades, estacionamento, comportamento do público frequente e bom fluxo de trânsito ao redor. Dentre os fatores que inibem a visitação estão: incidência de chuvas e poluição, além da falta de manutenção e insegurança (REIS, 2001). Uma das propostas da OMS (Organização Mundial de Saúde) e das Nações Unidas para o meio ambiente é determinar uma área verde mínima por habitante. Atualmente a OMS recomenda 9 m² por pessoa. Também é recomendado um desenho verde para que os habitantes não vivam a uma distância de mais de 15 minutos a pé de um espaço verde público (PNUMA, 2003).

 

3.3 Análise de dados da cidade de Videira (SC)

     Conforme dados do IBGE (2018) Videira conta atualmente com uma população estimada de 52.510 habitantes, sendo a segunda mais populosa dentre as 27 cidades que compõem a microrregião onde está inserida, indicando um local propício e adequado para incluir o maior número de pessoas possível. Ainda de acordo com o IBGE (2018), a parcela da população de Videira com idade entre 15 e 24 anos (idade média dos estudantes de ensino médio e superior) é de cerca de 18,4%. Vale ressaltar que este anteprojeto visa atender a população carente, com o objetivo de lhes oferecer acesso à cultura e lazer. Isto porque de acordo com o IBGE (2010), 22% da população videirense possui um rendimento de até meio salário mínimo.

     De acordo com uma consulta realizada ao Grupo Cine de Videira (2019), o atual cinema que está inserido no Shopping da cidade comporta 304 pessoas. Uma sala de exibição apresenta 170 lugares e mais 2 para cadeirantes, a outra 130 lugares e mais 2 para cadeirantes. Foi avaliado que para o porte da cidade estas salas são insuficientes em filmes mais aclamados e para receber mais lançamentos.

 3.3.1 Análise de usuários

     Um cinema público inserido em um parque traz benefícios que vão desde lazer e convívio social, juntamente com uma melhora na qualidade de vida. Estes fatores despertam o interesse do setor público, cidadãos e empresários locais. Assim, com o apoio do setor público e privado é possível obter sucesso do desenvolvimento urbano e da obra.

     Há uma classificação quanto aos usuários que são os regulares e os irregulares. O usuários regulares são os que utilizam o espaço com mais frequência, ou seja, um determinado horário de uso da edificação. Nesta classificação estão incluídas as pessoas que trabalham no local, desde a parte administrativa até a limpeza e manutenção. Também estão inclusos os colaboradores terceirizados, que trabalham em carga e descarga.

     Os usuários irregulares são aqueles que não possuem uma permanência prolongada na edificação. São estes que trazem sucesso e promovem o espaço. Nesta classificação estão incluídos os turistas e a própria população da cidade. Vale ressaltar que o objetivo deste anteprojeto é atender a população carente, oferecendo acesso à cultura e lazer. Isto porque de acordo com o IBGE (2010), 22% da população videirense apresenta um rendimento de até ½ salário mínimo. Também é objetivo auxiliar na educação, portanto outro público alvo são os estudantes de ensino fundamental e médio. O auxílio na educação se faz necessário porque o número de alunos do ensino fundamental vem decaindo com os anos, o que também apresenta relação com a taxa de natalidade.

     O gênero dos visitantes varia muito de acordo com as exibições no momento, visto que de forma generalizada, os homens preferem mais filmes de ação e as mulheres dramas e romances, por exemplo. De acordo com estudos realizados na área, os jovens preferem atividades ao ar livre, bares, atividades em grupo e que possam ter mais liberdade fora de casa. Este é um ponto positivo da inserção do cinema em um parque porque amplia as opções de atividades e público alvo. Os jovens associam muito o cinema ao namoro e encontros, que, de acordo com os pais, é um entretenimento permitido e seguro (EARP; SROULEVICH, 2012).

     As pessoas mais velhas, de forma geral, visitam o cinema mais com os amigos e família. Estas pessoas em sua maioria já constituem uma família, trabalho e outras obrigações da vida adulta. O deslocamento acaba se tornando penoso, cansativo e o tempo de duração das exibições faz com que voltem tarde para realizar suas atividades domésticas. O aparecimento de opções de assistir filmes em casa com boa qualidade reduziu muito a frequência de diversos públicos no cinema. Isto porque, muitos consideram um custo muito elevado e ser mais cômodo assistir em casa (EARP; SROULEVICH, 2012).

 3.4 Estudo de caso

     Com o fim de obter maior conhecimento acerca desta tipologia de construção, foi realizado um estudo de caso a nível internacional, visto que no Brasil ainda não há edificação deste porte. Neste estudo foi analisada a Cineteca Nacional S. XXI (Figura 1), de autoria de Rojkind Arquitectos, na Cidade do México, onde foi realizada a visita in loco para o estudo e convivência com o espaço.

 

 Figura 1 - Entrada de pedestres da Cineteca Nacional, fonte: os autores (2019).Figura 1 - Entrada de pedestres da Cineteca Nacional, fonte: os autores (2019).

     A atual edificação se encontra no mesmo local da antiga cineteca, que foi consumida por um incêndio. A obra foi concluída em 2014 e está em perfeito funcionamento até o momento. Apresenta uma área total de 49.000 m² contando com o terreno, que dispõe de um parque e a área edificada. A construção está inserida em uma área nobre da Cidade do México, o bairro Xoco. Dispõe de acesso de pedestres e de veículos ao complexo, contando ainda com outros modais em suas proximidades como: para-ciclos, parada de metrô e pontos de ônibus.

     O complexo apresenta vários setores para o seu funcionamento, dentre eles: o setor de exibições cinematográficas, o de salas comerciais, o acervo, o administrativo, o estacionamento e o museu a nível nacional sobre história do cinema. Um anfiteatro atende a exibições realizadas ao ar livre. É possível observar a distribuição destes setores na Figura 2.

Figura 2 - Setorização da edificação, fonte: adaptado pelos autores de Google Earth (2018).Figura 2 - Setorização da edificação, fonte: adaptado pelos autores de Google Earth (2018).

     O objetivo do projeto foi alcançado, isto porque diversas pessoas utilizam o espaço em diferentes horas do dia. Funcionários de um hospital próximo visitam o local nos horários de almoço, estudantes vão à tarde passar o tempo e à noite o público em geral que prestigia o cinema. O acesso aos demais pavimentos é único e exclusivamente por rampas (Figura 3), o que é um ponto positivo no quesito acessibilidade e inclusão, visto que no México ainda não existem leis de obrigatoriedade para a adaptação e projeto de construções para portadores de necessidades especiais.

Figura 3 - Rampa de acesso na Cineteca Nacional, fonte: os autores (2019)Figura 3 - Rampa de acesso na Cineteca Nacional, fonte: os autores (2019)

     O clima da região na qual está inserida a Cineteca Nacional é subtropical e as temperaturas durante o verão podem ser bem elevadas. Para solucionar este problema, foi desenvolvida uma cobertura vazada em alumínio branco que permite a circulação do ar e inibe boa parte da absorção de calor. Esta cobertura também se torna elemento da fachada. Um ponto negativo é a ausência de ciclovias nas proximidades apesar da presença de um bicicletário na Rua Real Mayorazgo.

 4 Resultados: proposta de cinema inserido em parque

     Após todos os levantamentos realizados e estudo de caso, foi constatado que seria necessário um cinema que atendesse a aproximadamente 528 pessoas em salas de exibições, contando com a área de exibições externa, sendo esta de fluxo de público controlado. Também foi definido um pré-dimensionamento com 1.695,50 m² de área edificada para atender ao programa de necessidades. Com relação a esse programa, ele está distribuído nos seguintes setores: público, comercial, cinema, acervo, ensino e produção, administrativo, funcionários, serviços e áreas técnicas. Um setor de ‘ensino e produção’ se faz necessário pelo objetivo de auxílio educacional. Com este setor, a edificação oferece todo apoio e estrutura necessária para realizar obras em vídeo e produções dos próprios alunos. O anfiteatro de exibições públicas prevê atender a parcela carente da população de acesso à cultura e lazer, podendo ser local de exibições dos próprios alunos da cidade também.

     Com o objetivo de garantir a funcionalidade na edificação, foi desenvolvido um fluxograma (Figura 4), no qual constam todos os cômodos necessários, divisão por setores e fluxos. O seguintes fluxos foram considerados: público, público controlado e privado. O fluxo público é onde o público em geral possui acesso. O fluxo público controlado é onde antes de acessar determinado setor há um controle dos usuários que estão acessando. Por fim, o fluxo privado é aquele destinado apenas aos funcionários, atividades administrativas e funcionamento da edificação.

 

 

     Para o desenvolvimento do anteprojeto foi escolhido um terreno a ser analisado na cidade de Videira (SC), como mostra a Figura 5.

     Após análise das potencialidades e deficiências, ele foi definido por dispor de características mais pertinentes ao projeto. Este terreno, situado no bairro Universitário, apresenta 17.260 m² de área. De acordo com a Lei Complementar Nº 56/07 (VIDEIRA, 2007), o terreno de análise está situado na Zona Residencial 2 de média densidade (ZR2). Seu uso é considerado permitido nesta zona para edificações de ‘uso comunitário 2’, categoria no qual o cinema está incluído.

     A sua localização estratégica afastada do centro da cidade, evita problemas de locomoção por sobrecarga da estrutura viária urbana em horários de pico e eventos. Sua localização também é favorável de acordo com os seus objetivos por estar próximo a bairros periféricos, escolas, universidade e outros parques. A Sul deste terreno está situado o Parque da Uva, que atende a diversos eventos da cidade e passará por uma revitalização completa. Há a possibilidade de integração do anteprojeto com este parque, isto porque o que os divide é somente a Rua Waldemar Kleinubing. Esta proposta visa auxiliar e incrementar as atividades já exercidas no local. A área escolhida para intervenção dispõe de vias em todas as suas fachadas. Este fator auxilia na resolução de projeto dos acessos de pedestres, veículos, carga e descarga. Também dispõe de toda uma infraestrutura necessária de abastecimento de água e energia. É possível observar este terreno na Figura 6.

4.1 Conceito e partido

O anteprojeto deste cinema público inserido em parque, busca o conceito de ‘inclusão’. Um local em que todos possam ter acesso de forma igualitária sem exceções. O espaço almeja atender todos em seu momento de lazer e satisfação pessoal. O termo inclusão refere-se a incluir fisicamente e emocionalmente. Todos devem desfrutar de seu uso da maneira que preferir, desde que não interfira negativamente na vida alheia. A inclusão da população carente, por exemplo, tem sido um desafio em tempos onde são raros os meios de entretenimento gratuitos e acesso à cultura. Este conceito também visa que a mulher se sinta confortável realizando suas atividades sozinha, sem ser taxada como promíscua ou sofrer alguma forma de assédio. O cinema inserido no parque, por se tratar de uma obra pública tem a obrigação de incluir a qualquer um, independente de raça, religião, gênero, sexualidade, idade, necessidades especiais e preferências.

Quando são realizadas pesquisas acerca do tema inclusão, é muito comum encontrar imagens de pessoas com as mãos dadas e em círculo. Esta forma que será utilizada como partido, pode representar harmonia entre as pessoas e a sociedade em geral. O objetivo é trazer esta forma circular para a resolução do anteprojeto. Ela pode ser usada tanto em elementos de fachada quanto na disposição da planta baixa. A disposição radial da planta pode ser muito funcional e possibilitar a criação de um espaço de integração ao centro.

 5 Considerações finais

Com base nas pesquisas realizadas para o presente trabalho, é possível afirmar que lazer e cultura melhoram significativamente o bem-estar e qualidade de vida da população. Foi verificada a importância do cinema no uso educacional e benefícios de um parque com o embasamento em diversos autores da área. Este projeto visa incluir a parcela da população de baixa renda e tornar o local atrativo com diversas outras atividades para que tenha o seu diferencial. Tudo isto, além de movimentar a economia local de forma indireta com o turismo regional. Neste fim de etapa o projeto mostra o norteamento necessário para a sua elaboração com base nas pesquisas realizadas.

Referências

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VIDEIRA (SC). Lei complementar nº 56/2007. Dispõe sobre o zoneamento e uso e ocupação do solo urbano da sede do município de Videira, e dá outras providências. Disponível em <www.leismunicipais.com.br/plano-de-zoneamento-uso-e-ocupacao-do-solo-videira-sc> . Acesso em: 27 mar. 2019.

 

Minicurrículos: 

 

Leandro Marques Fraga

 

Graduando do curso de Arquitetura e Urbanismo pela Universidade do Oeste 

de Santa Catarina (Unoesc)

Juliana Aparecida Biasi

Mestre em Engenharia Civil (UTFPR), Especialista em

Engenharia e Gestão de Projetos (PUCPR),

Arquiteta e Urbanista (PUCPR).

Professora de graduação no curso de Arquitetura e Urbanismo (Unoesc).

Correio eletrônico: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Link para Currículo Lattes:

http://lattes.cnpq.br/4916582959866093

https://orcid.org/0000-0002-1543-9919

https://orcid.org/0000-0001-6827-8189 

Tulainy Parisotto

Mestre em Educação (Unoesc),

Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho (Unoesc)

e em Arquitetura Comercial e Sustentabilidade em Edificações (Unochapecó), arquiteta e Urbanista (Unochapecó).

Professora de graduação no curso de Arquitetura e Urbanismo (Unoesc).

Correio eletrônico: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Link para Currículo Lattes:

http://lattes.cnpq.br/0186223516311999

https://orcid.org/0000-0003-3806-861X

 

Jeferson Eduardo Suckow

Especialista em Geopolítica e Educação Ambiental (Unoesc),

Arquiteto e Urbanista (UFSC). 

Professor e Coordenador do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo (Unoesc).

Link para Currículo Lattes:

http://lattes.cnpq.br/1561691474028602

 

Como citar:

FRAGA, Leandro Marques; BIASI, Juliana Aparecida; PARISOTTO, Tulainy; SUCKOW, Jeferson Eduardo. Estudos para desenvolvimento de projeto de cinema público com parque em Videira, Santa Catarina. 5% Arquitetura + Arte, São Paulo, ano 14, v. 01, n.18, e116, p. 1-16. disponível em: http://revista5.arquitetonica.com/index.php/uncategorised/estudos-para-desenvolvimento-de-projeto-de-cinema-publico-com-parque-em-videira-santa-catarina

 

 

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