História e geografia: projeto e obra

Categoria: Teoria

EDITE GALOTE CARRANZA

RICARDO CARRANZA

No início da década de 1960, inserido no Plano de Ações do Governo Carvalho Pinto, o arquiteto Paulo de Camargo e Almeida, então Diretor Executivo do FCCUASO – Fundo de Construção da CUASO – USP/SP, convida um grupo de arquitetos, afinados com o princípio de uma arquitetura dotada de espaços internos amplos interligados através de ruas e praças, a projetar edifícios que dessa forma ampliassem as possibilidades de convívio universitário, fazendo uso de uma tecnologia a mais atualizada possível.

A proposta deu origem ao História e Geografia e a FAUUSP, ambos de 1961. A obra de Corona é iniciada em 1961 e inaugurada em 1964.  A FAUUSP seria concluída em 1969.   Segundo o professor Aluízio Margarido, engenheiro do escritório Figueiredo Ferraz, esta é uma época de projetos arrojados e execuções que nem sempre atendiam bem à demanda devido ao distanciamento que persistia entre projeto e obra.

 

História e geografia. Foto: Acervo Eduardo CoronaHistória e geografia. Foto: Acervo Eduardo Corona
 
No caso do História e Geografia, a dissonância entre a textura em quadrícula das formas de madeira das empenas e as juntas curvas das etapas de concretagem é evidente. O imprevisto contribuiu para Corona optar pelo concreto pintado.

Outra questão é o pé-direito sob as rampas. No projeto original observa-se que as rampas – as quais foram projetadas como vigas tipo caixão, tem seção com altura da ordem de 80cm, em um desnível de 3.40m. O projeto de estruturas dimensionou uma viga com seção de 1.20m. Portanto, teríamos 2.20m de pé-direito, razoável para um espaço de simples transição. No entanto, a altura executada ficou em torno de 1.90m.

Construído hoje, o História e Geografia seria executado em um concreto de 35 a 40MPA, contra os 24 MPA executados – Controle Rigoroso – o que já demonstra a preocupação do projetista com o porte da obra, especialmente por tratar-se de um edifício com vãos da ordem de 48.20 m – eixo transversal,  e  15.50 m – eixo longitudinal, e que à época as resistências do concreto mais comuns eram de 13.5 a 18MPA.  Em contrapartida, a FAUUSP, inaugurada em 1969, foi executada com concreto 32 MPA e o MASP, iniciado em 1960 e concluído em 1969 – 45 MPA.

 

Escada helicoidal Foto: Arquivo do arquitetoEscada helicoidal Foto: Arquivo do arquiteto

 

História e Geografia é um edifício em que a solução plástica nos remete ao movimento De Stijl: os pilares do eixo transversal que se encaixam à empena cega; as vigas que requadram as esquadrias rasgadas horizontalmente e que avançam sobre volumes prismáticos recortados e recuados; a iluminação zenital das ruas internas em vigas e placas; o guarda-corpo demarcando rampas e passarelas; as escadas helicoidais soltas nos acessos; tudo enfim corresponde à tensão de elementos estruturais espacialmente articulados que definem a plástica do projeto.

Quanto aos acessos, pensados como eixos totais de penetração, pelo eixo longitudinal o edifício é permeável da entrada principal à praça na sua outra extremidade e o eixo transversal a este se interliga do nível intermediário.  O resultado é um grande pavilhão translúcido que sintetiza as relações espaciais do edifício.

História e Geografia recebeu o prêmio IAB em 1967 na categoria de Edifícios Educacionais.

AUTORES:

    Edite Galote Carranza
    é mestre pelo Instituto Presbiteriano Mackenzie em 2004; doutora pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP em 2013 com a tese “Arquitetura Alternativa: 1956-1979”; diretora do escritório de arquitetura e editora G&C Arquitectônica e da revista eletrônica 5% arquitetura + arte ISSN 1808-1142. Publicações em revistas especializadas, livros Escalas de Representação em Arquitetura, Detalhes Construtivos de Arquitetura e O quartinho invisível: escovando a história da arquitetura paulista a contrapelo. Professora da graduação e pós-graduação da Universidade São Judas Tadeu.

    Ricardo Carranza
    Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2000, diretor do escritório de arquitetura e editora G&C Arquitectônica Ltda, editor da revista 5% Arquitetura + Arte e escritor. Publicações: Antologias de Concursos Nacionais – SCORTECCI, SESC DF; revista de literatura – CULT; sites de Poesia e Literatura – Zunái, Stéphanos, Germina, Cult - Ofi-cina Literária, Mallarmargens, O arquivo de Renato Suttana, Triplov. LIVROS: Poesia – publicados: Sexteto, Edição do Autor, SP, 2010; A Flor Empírica, Edição do autor, SP, 2011; Dramas, Editora G&C Arquitectônica Ltda., SP, 2012. Inéditos – Pastiche, 2017/2018; poesia... 2019. Contos – inéditos: A comédia dos erros, 2011/2018 – pré-selecionado no Prêmio Sesc de Literatura 2018; Anacronismos, 2015/2018; 7 Peças Cáusticas, 2018. Romance inédito: Craquelê, 2018/2019. Cadernos de Insônia (58): desde 2009. ARTIGOS publicados na revista 5% Arquitetura+Arte desde 2005.
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    Dados do Projeto

    Autor – Professor Arquiteto Eduardo Corona

    Contrato – FCCUASO – Fundo de Construção da Cidade Universitária    Armando         Sales de Oliveira

    Projeto – 1961

    Inauguração – 1964

    Área Construída – 16.000m2

    Local – Cidade Universitária

    Cálculo Estrutural – Figueiredeo Ferraz Consultoria e Engenharia de Projeto Ltda.

    Construção – Fundação para a construção da Cidade Universitária.

    Implantação – Professor Engenheiro Arquiteto Anhaia Mello.

    Organogramas – arquiteto Savério Orlandi

    Projeto Executivo (compatibilização) – Professor Arquiteto Luciano Bernini

    Depoimentos aos Autores – Professor Engenheiro Aluizio Margarido, Professor Arquiteto Eduardo Corona, Professor Arquiteto Luciano Bernini, Engenheiro Roberto de         Oliveira Alves (Figueiredo Ferraz)

    Referências:

    Carranza, Ricardo. Eduardo Corona e a Arquitetura Moderna Paulistana.            São Paulo:      FUPAM, 2001.A.

    CORONA, Eduardo; LEMOS, Carlos A.C. ; XAVIER, Alberto (org.).  Arquitetura            Moderna Paulistana. São Paulo:  Pini, 1983.

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